ANÁLISE

Na Argentina a fuga de capitais é um “esporte nacional”, as crises da dívida externa e fuga de dólares se repetem com frequência ao longo dos anos.

Desde os anos oitenta, quando na América Latina ocorreram crises das dívidas externas, a Argentina já passou por diversos episódios críticos, como em 1982, com a Guerra das Malvinas e a dívida adquirida durante o governo Macri (2015-2019).

Cada crise levou, primeiramente, a um ingresso de dólares para alimentar o frenesi especulativo, para então financiar uma fuga de capitais.

Nota de peso argentino em homenagem às ilhas Malvinas
© SPUTNIK / FRANCISCO LUCOTTI
Nota de peso argentino em homenagem às ilhas Malvinas

Em cada um desses momentos dramáticos da economia argentina foram criadas comissões para identificar o que ocorreu com os valores da dívida. Na última, entre dezembro de 2015 e setembro de 2019, o aumento líquido da dívida pública em moeda estrangeira foi exponencial, em paralelo com uma fuga de dólares de US$ 93,6 bilhões (R$ 423 bilhões), segundo um informe do Centro de Pesquisa e Investigação da República Argentina (CIFRA) e Central de Trabalhadores da Argentina (CTA).

Discurso

O traço principal do ciclo de endividamento mais recente foi que não serviu somente para aumentar o nível da atividade econômica, mas sim para financiar a fuga de capitais.

Os dólares que deveriam ser usados para financiar o desenvolvimento produtivo foram usados em uma impressionante bolha especulativa, terminando em uma fuga desse dinheiro do país.

Alberto Fernández, atual presidente argentino, levantou três pontos sobre a questão:

Entre os desafios de curto prazo, se encontram a necessidade de colocar fim na especulação financeira, reduzindo a taxa de juros de referência do Banco Central, que já baixou de 63% para 40%, assim como avançar no difícil processo de renegociação da dívida para reduzir a “brecha externa”. Ou seja, a disponibilidade de dólares.

Correlação

O problema não é somente a magnitude da saída de capitais ao exterior e seu impacto na economia doméstica. Afinal, a saída de capitais do sistema financeiro não é ilegal.

A questão principal é que nem o Estado, nem o Banco Central da Argentina, nem os bancos aplicam adequadamente as medidas de controle dos capitais que fogem do país. Cada investigação atualmente em curso no país sul-americano revela o estreito grau de correlação ente a fuga de capitais e a concentração do mesmo.