Início Opinião Guitarras e fuzis

Guitarras e fuzis

Jorge Portugal

Foi assim que eu vi as duas fotografias nas redes sociais – Bolsonaro na cama de um hospital encenando empunhar um fuzil, e Haddad fazendo um solo de guitarra, em êxtase – deu um estalo: O Brasil sempre adorou se dividir em blocos, torcidas e… Fla e Flu, Ba e Vi, coxinhas e mortadelas, e agora sugiro uma polaridade mais universal: guitarras e fuzis.A guitarra me traz as melhores lembranças das minhas passagens, sendo a primeira aquela de Woodstock, quando Jimmy Hendrix, o maior guitarrista de todos os tempos, executou o hino nacional norte-americano, distorcido, e simulando sons de bombas jogadas sobre as cabeças dos norte-vietnamitas.Momento que deveria ganhar o Prêmio Nobel da Paz daquele ano; fuzis me recordam “aquele garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones” e, quando de sua guitarra se separou foi morto na guerra do Vietnã por “um instrumento que sempre dá a mesma nota rá-tá-tá-tá”. Guitarras me trazem a imagem de George Harrison solando “Somithing”, nos Beatles e “My sweet Lord”, já em brilhante voo individual; fuzis me trazem a recordação do assassinato do poeta Victor Jara no Estádio Nacional do Chile.Guitarras progressivas do Pink Floyd, do Yes; do ACDC, do Nirvana; baiana de Armandinho tocando “Brasileirinho” ou Zanzibar, para os meus mais belos sonhos de juventude baiana; Fuzis também que pairavam como uma espada de Dâmocles- metaforicamente e não – sobre a minha cabeça de jovem poeta e músico na clandestinidade das minhas lutas santamarenses.

O período Lula foi pura guitarra. Solos alucinados para as cotas universitárias, para o Minha casa, Minha vida, para o salário mínimo real, para a agricultura familiar, para a política externa soberana, para o pré-sal. FHC e Temer foram fuzis disparados na Vale do Rio Doce e na legislação trabalhista de Vargas.

Haddad, Ciro e Boulos são guitarras; Bolsonaro é fuzil barulhento; Alkmin, fuzil silencioso marca Opus Dei. Super mortal. Marina já foi guitarra, hoje rendida ao fuzil.