Ivo Carraro

A lista nominal dos aprovados foi anunciada. Em direção a ela milhares de jovens dirigem-se. Em cada um, o sonho de encontrar seu nome como aprovado no concurso vestibular, o seu ingresso no curso superior. Além de levarem seus próprios anseios, levam também as esperanças e os sonhos de seus pais e, talvez, a expectativa da sociedade à qual pertencem.

Sim. Lá está seu nome. O grito da vitória brotado no fundo do seu ser. Vitória essa conquistada com muita dedicação. O abraço forte daqueles que a ele estão ligados. Descortina-se diante de si a possibilidade de um futuro brilhante. Para ele, o vestibular passou a ser uma página virada na história da sua vida.

Porém, um grande número deles não encontra seu nome na lista dos aprovados. A pergunta fatalmente virá ao seu pensamento: “O que vou fazer agora?”. Então, ele provavelmente se fechará, tendo em vista que sentirá o “mundo desabando”. Estará só com seus pensamentos de desilusão, de sentimento de injustiça, de indignação.

Entrará, então, em contato com sua subjetividade. É um santuário interior, quando se está só, com a alma desencantada, em que se repele a realidade externa. Não se trata de solidão, o vazio que invade a vida tirando-lhe o sentido. É apenas a possibilidade de estar só. Dessa dimensão ele sairá no seu devido tempo.

Esse refúgio o fará compreender, também, que o vestibular faz parte da vida como desafio, contingência e experiência individual. Enfim, desse refúgio dependerá o novo despertar do seu desejo, para que ele torne a buscar a profissão de seus sonhos e retome o caminho do reencontro, que nem sempre acontece na primeira vez. Então, não ter sido aprovado não se traduz em gravidade severa, pois grave é tudo aquilo que a vida não concede nova oportunidade.

Também não houve fracasso, se fez conscientemente o que lhe cabia fazer, dentro da sua capacidade de alcance e com os recursos físicos e intelectuais de que dispunha. Fez tudo o que podia. Não se pode, pois, ir além do tudo. Cada aparente insucesso fornece a força necessária para que o passo seguinte seja dado com mais segurança. E como os pais podem preparar o filho para essa adversidade? Estruturá-lo para que trilhe o seu próprio caminho. Prepará-lo para suportar as frustrações.

Alertá-lo de que a realidade externa impõe certas perdas. Essa é uma tarefa individual, como individual é a tomada de consciência (e a nossa também) de que nada se pode fazer para evitar as perdas e as marcas do tempo, tendo em vista que se constituem em fatores inerentes para o contínuo e infindável desenvolvimento humano.

Que aprenda o que o tempo lhe ensinou, já que o passado é ensinamento sobre o qual se deve refletir e não se reproduzir. Que respeite especialmente o indispensável, como o alimento, o trabalho, o amor, o acreditar em si mesmo, o meio ambiente, a saúde, os amigos, a ação, a família, Deus… enfim, esses valores existentes além do vestibular e que podem ser considerados únicos na vida. E se, porventura, algum desses valores tenha faltado, que ele tenha buscado no seu interior, na sua capacidade de ficar só, a força, a criatividade, a inspiração e a vontade indomável para encontrar o caminho da saída.

*Ivo Carraro, professor de matemática, psicólogo e autor do livro “Profissões: pais preocupados, filhos inseguros’’, é orientador educacional do Curso Positivo.