*Por Clarindo Silva
Não sou professor de história, nem historiador, mas meu coração é de preservador das coisas belas e minha alma é de alguém que respeita a memória e tudo de bom que meus ancestrais construíram antes de mim.
E ao escrever assim, quero fazer uma viagem ao tempo e mais especialmente aos primeiros dias de janeiro de mil oitocentos e oitenta e cinco, quando surge um marco na história da colônia galega na nossa Bahia,
quando a Sociedade Espanhola de Beneficência passou a existir oficialmente, depois que cento e vinte e quatro imigrantes envolvidos com o ideal comunitário se uniram para fundar uma entidade que pudesse minimizar as dores físicas e espirituais de seus compatriotas.
Desde então a entidade cumpre o seu papel e oferece assistência de saúde não só para imigrantes espanhóis, mas para toda sociedade baiana.
De uma sala que começou funcionando na rua Direita do Palácio, hoje Rua Chile, os próprios associados prestavam socorro aos imigrantes mais necessitados. Os tempos eram difíceis e muitos eram os que procuravam ajuda. A sala comercial ficou pequena, mesmo sendo usada apenas para despachos, pois os atendimentos aos doentes eram feitos em domicílio.
Em fevereiro de mil oitocentos e oitenta e seis, foi transferido para o antigo Campo dos Mártires, hoje Campo da Pólvora, local onde hoje funciona o Ramiro de Azevedo. Não tardou e as instalações se tornaram acanhadas frente as necessidades da época.
Os imigrantes, na sua maioria jovens que vinham tentar de melhor sorte, viviam em repúblicas adaptadas perto do trabalho.
Na época, as doenças se proliferavam pelas condições insalubres da vida. A tuberculose era o mal mais temido. Para evitar o contágio, era fundamental isolar os doentes. Se tornava urgente um espaço mais amplo, um local onde fosse possível obter informações sobre a pátria longínqua e os entes queridos.
Todas as realizações eram feitas através de cotizamento.
Quando se adquiriu o espaço onde até hoje está o Hospital, que quando das solenidades dos seus cem anos teve sua foto estampada em bilhetes de loteria, a empresa brasileira de correios e telégrafos homenageou a instituição com o lançamento de um carimbo com selo comemorativo.
Na solenidade, uma placa de bronze na entrada e na recepção central, missa celebrada por Cardeal Dom Brandão Vilela.
A salinha deu origem a mais do que um hospital, transformou-se em um centro de ciência e pesquisa. No mesmo período, se comemorava os quatrocentos anos do clássico Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes. Através de Quixote, Cervantes colocou que devemos perseguir os ideais mais amplos, em vez de estarmos atrás dos nossos desejos pessoais.
Foram vários títulos, condecorações, convênios, visitas do rei Juan Carlos e D. Sofia, visita de Filipe de Bourbon e sua esposa, D. Letzia, título de “Real Sociedade Espanhola”.
Cento e trinta e cinco anos de existência, duzentas e quarenta mil pessoas vieram ao mundo através daquele santo lugar. Duzentos e setenta leitos, cinquenta unidades de UTIS adulto, doze neonatal. Fechado há seis anos, reaberto por força do covid.
O Hospital Espanhol não pode, não deve ser tratado simplesmente como um hospital de campanha. Trata-se de um hospital de utilidade pública, reconhecido pelo município, pelo estado e pela federação.
Que todas as esferas se juntem, a sociedade, os descendentes dos espanhóis, as autoridades espanholas de mãos dadas para que naquele espaço seja preservado o patrimônio maior que é  a vida.
*Clarindo Silva
Jornalista, Escritor, Poeta, Empreendedor