Em tempos de prolongada pandemia, recolhimento e tantas perdas, é quase impossível não sofrer algum tipo de problema mental ou emocional. Difícil passar ileso por esses quase dois anos de mudanças e tantos desafios sanitários. Publicação recente da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) examina estudos e dados de países da região, para tentar compreender o impacto da pandemia sobre a saúde mental da população. E faz uma constatação relevante: no Brasil, mais de 40% dos cidadãos tiveram problemas de ansiedade.

No vizinho Peru, aumentaram em cinco vezes os sintomas de depressão e os canadenses que relataram altos níveis de ansiedade aumentaram 4 vezes. No caso brasileiro, o documento aponta, ainda aumento acentuado nos registros de violência doméstica. A psiquiatra Monia Bresolin, do corpo clínico do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC), entende que a indefinição sobre o fim da pandemia – com o reaparecimento de novas cepas de vírus – faz desse tempo um fator de estresse crônico, sobretudo em função das incertezas do que ainda está por vir. “Além do sofrimento pela perda de pessoas queridas, também trouxe mudanças econômicas, na forma de trabalho, estudos, relação sociais e familiares, o que exige uma adaptação a situações nunca antes vividas”, reflete a médica.

Mas como resistir a tanta pressão? “As recomendações para manter a saúde mental não são muito diferentes quanto à saúde física”, explica Monia Bresolin, listando, entre as principais atenções que se deve ter nesses momentos difíceis, a prática de atividade física regular, alimentação equilibrada, rotina de sono adequada, manter vínculos sociais positivos, manter equilíbrio entre lazer, trabalho, família, vida social e religiosidade. E buscar auxílio profissional em caso de necessidade.

Identificar essa necessidade de ajuda, porém, nem sempre é fácil. Mas a psiquiatra dá uma boa dica para distinguir o que é considerado comportamento “normal” daquele que exige uma maior atenção profissional: “Pode-se entender como ‘normal’ o padrão habitual da pessoa, levando em consideração sua trajetória de vida. E consideramos como merecedor de tratamento quando há alguma alteração de comportamento que cause sofrimento ou prejuízo significativo à pessoa.”

Nesse contexto mundial com tantas preocupações e poucas certezas, a médica destaca a importância não apenas de manter-se atentos a eventuais transtornos decorrentes dessa situação, mas, também, de buscar promover ainda mais a saúde mental.

Criada em 2014, a campanha Janeiro Branco tem por objetivo chamar a atenção para a necessidade de cuidar da saúde mental como importante fator de qualidade de vida. Afinal, mesmo antes da pandemia, conforme dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil já era o segundo país da América com maior número de pessoas depressivas (5,8% da população) e, também, o país com maior número de ansiosos do planeta: 9,3%. E considerando a pandemia de Covid-19, aumentam exponencialmente as possibilidades de aparecimento e agravamento do estresse crônico e transtornos mentais.

Assessoria de imprensa