DW – O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou nesta segunda-feira (23/05) que desistiu de disputar a Presidência da República, em meio a pressões da cúpula de seu partido.

“Serenamente entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom senso, o diálogo e o equilíbrio. Sempre busquei e seguirei buscando o consenso, mesmo que ele seja contrário à minha vontade pessoal”, disse ele em discurso.

O anúncio ocorre um dia antes de a executiva do PSDB se reunir para decidir como se posicionará nas eleições de outubro.

A expectativa é que o partido anuncie apoio à senadora Simone Tebet, do MDB, estabelecendo assim uma candidatura única da “terceira via” contra o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – os dois mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, mas também bastante rejeitados por parte da população.

“O PSDB saberá tomar a melhor decisão no seu posicionamento para as eleições deste ano. Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve, com a sensação de dever cumprido e missão bem realizada”, completou Doria.

O imbróglio

Em novembro de 2021, Doria venceu as prévias do PSDB para concorrer à Presidência, derrotando o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Mas o ex-governador não teve sucesso nas pesquisas eleitorais desde então. Na última sondagem do instituto Datafolha, no fim de março, Doria apareceu com apenas 2% das intenções de voto, atrás de Lula (PT, 43%), Bolsonaro (PL, 26%), Sergio Moro (então Podemos, 8%) e Ciro Gomes (PDT, 6%).

Na mesma pesquisa, ele foi ainda o terceiro candidato mais rejeitado, com 30% de rejeição, atrás apenas de Bolsonaro (55%) e Lula (37%).

Em 31 de março, o tucano anunciou sua renúncia ao governo de São Paulo para concorrer ao Palácio do Planalto pelo PSDB. Na ocasião, Doria fez um aceno a outros candidatos da terceira via e afirmou ser hora de “virar uma frente ampla e um tipo poderoso pelo Brasil e pelos brasileiros”.

Desde então ele vinha tentando manter sua candidatura, em meio a resistências internas no PSDB. Dirigentes do partido pensavam que poderia não haver acordo com Doria e acreditaram inclusive na judicialização do caso.

Em meados de maio, o ex-governador enviou uma carta ao presidente do PSDB, Bruno Araújo, criticando a movimentação da legenda para tirá-lo da disputa e reiterando que não abriria mão da candidatura. No texto, Doria ameaçou procurar a Justiça Eleitoral caso fosse abandonado pelo partido, tendo como base o fato de ter vencido as prévias no ano passado.

Candidatura única

Araújo esteve presente no anúncio de Doria nesta segunda-feira, realizado na casa alugada para seu comitê de campanha, em São Paulo. O presidente do PSDB defendeu uma candidatura única com o MDB e o Cidadania e sugeriu que os tucanos devem indicar um candidato a vice na chapa.

“Nós temos um entendimento de diálogo com o Cidadania e com o MDB e nós vamos dar um passo à frente agora. A construção agora não é só definir o nome – e o nome de Simone é um nome posto nessa construção –, mas agora precisamos construir um projeto de compromisso de programa com o Brasil”, afirmou Araújo.

Tebet se pronunciou logo após o anúncio, em nota, afirmando que pretende incluir ideias do tucano em seu programa de governo.

“Doria nunca foi adversário. Sempre foi aliado. Sua contribuição com a luta pela vacina jamais será esquecida. Vamos conversar e receber suas sugestões para nosso programa de governo”, disse a emedebista, lembrando os esforços do então governador de São Paulo para a compra de vacinas contra a covid-19.