Por Projeto Colabora – Foto Freepik

“Só podemos alcançar o impossível se acreditarmos que é possível”. A frase é do personagem Charles Kingsleigh de Alice no País das Maravilhas. A clássica obra de Lewis Carroll foi o primeiro livro que Mario Paulo Greggio leu através da Biblioteca Virtual Mais Diferenças.

A iniciativa reúne 42 obras literárias, incluindo clássicos como “Alice no País das Maravilhas”, “O Pequeno Príncipe”, “O Alienista” e “Peter Pan”. Entre os destaques, também está o livro favorito de Mario, que é uma pessoa com síndrome de Asperger, uma condição do espectro autista que afeta a comunicação e a socialização. “Da biblioteca virtual, desses que estão, o meu favorito e que eu também já li pessoalmente, é ‘A Volta ao Mundo em 80 dias’ que é do Júnior Verne, porque eu adoro geografia”, comenta o consultor da Mais Diferenças.

A plataforma surgiu como resultado de um trabalho desenvolvido há mais de 10 anos pela organização da sociedade civil que atua com educação inclusiva e na defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Antes mesmo do lançamento da biblioteca on-line, a Mais Diferenças já desenvolveu 69 livros em formatos acessíveis.

“O nosso trabalho é produzir conhecimento e materiais acessíveis em múltiplos formatos, além de subsidiar governos, instituições, empresas, equipamentos culturais, atores e gestores das políticas públicas a promover a inclusão das pessoas com deficiência, tudo isso para garantir que elas tenham o direito de estar e de acessar todos os lugares, independente da dimensão de acessibilidade”, destaca a coordenadora de pesquisa na Mais Diferenças, Thaís Martins.

A maioria dos livros disponíveis são obras em domínio público e podem ser acessados por qualquer pessoa que faça cadastro na biblioteca, outras possuem algumas restrições de direitos autorais e só podem ser acessadas por pessoas com deficiência. O desenvolvimento do trabalho contou com financiamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, através de edital do Programa de Ação Cultural (ProAc), desde que ela foi lançada em agosto de 2023, a plataforma já conta com cerca de 200 usuários cadastrados.

A biblioteca foi pensada seguindo os princípios do Desenho Universal, ou seja, considera diferentes dimensões da acessibilidade e busca tornando os conteúdos acessíveis para pessoas cegas, surdas ou com qualquer outra diversidade. Ao acessar um dos livros, o usuário é direcionado para um janela em que pode selecionar o tipo de conteúdo e acessibilidade que deseja, as opções incluem: vídeo com audiodescrição e janela de Libras (Língua Brasileira de Sinais); livro em formato Daisy (em tradução do inglês – sistema de informação digital acessível), versões com leitura ampliada, leitura com contraste e leitura fácil. Também é possível baixar o conteúdo em PDF e TXT com acessibilidade.

Thaís Martins explica que a Mais Diferenças tem como principais frentes de atuação à educação e cultura, por isso a importância de tornar a literatura acessível, seja como instrumento pedagógico, ou como fonte de acesso à cultura. “Como você quer trabalhar a questão da educação inclusiva, de garantir aprendizagens para todos, com equiparação de oportunidades, se os livros não estão acessíveis?”, questiona a coordenadora de pesquisa da organização.

Um dos elementos diferenciais que os livros da plataforma oferecem é a chamada leitura fácil, uma forma de escrever para tornar conteúdos mais compreensíveis, considerando dificuldades de pessoas autistas, por exemplo. “O texto desse livro pode ser muito difícil de compreender, porque ele usa muitas metáforas ou porque ele usa um vocabulário muito rebuscado. Então, vamos aplicar a leitura fácil, a linguagem simples, que é uma série de diretrizes para facilitar o acesso e compreensão do texto”. Segundo Thaís, a experimentação constante e a revisão com o apoio de consultores com deficiência é essencial para aprimorar a acessibilidade da biblioteca, entre esses consultores está Mario.