Por Redação- Foto Valter Campanato/Agência Brasil
A publicação de um vídeo institucional pela Marinha do Brasil, no dia 1º de dezembro, gerou crise entre o governo e a força militar. A peça, que criticava cortes de regalias de altos escalões militares e sugeria contraste entre marinheiros trabalhadores e civis em festas, foi vista como ato de insubordinação ao poder político civil. A publicação quase resultou na demissão do almirante Marco Sampaio Olsen.
Os autores do vídeo, a princípio, pretendiam comemorar o Dia do Marinheiro, celebrado no dia 13 do mesmo mês, para a veiculação da propaganda institucional, mas o foco foi deturpado e se tornou um ato de provocação e desobediência ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao ficar ciente, Lula ficou decidido a demitir o comandante da Marinha, o almirante Marco Sampaio Olsen, que deu aval e autorizou a publicação do vídeo.
Mesmo após semanas, Lula permanecia com a ideia de demitir Olsen. Houve então uma reunião previamente marcada com o Ministro da Defesa, José Múcio, para tratar de outros temas, no período que o presidente passou em São Paulo após dois procedimentos cirúrgicos na cabeça.
O presidente foi surpreendido com um comunicado do ministro na reunião: ele, Múcio, queria deixar a pasta em breve. Múcio explicou que, primeiramente, trocar o comando da Marinha ao mesmo tempo em que trocaria o chefe do Ministério da Defesa deixaria tudo ainda mais complicado. Neste caso, para evitar uma nova crise, seria melhor que ele, um civil, saísse do cargo, em vez do almirante. E haveria ainda outra questão.
A Marinha é a força militar com mais integrantes do Alto Comando com graves inclinações reacionárias. Na prática, o almirantado é do grupo dos oficiais generais das Forças Armadas do Brasil que mais odeia o PT, Lula e qualquer coisa ligada à esquerda, servindo como seguidores fiéis de Jair Bolsonaro (PL).
Múcio convenceu Lula de que a demissão de Olsen seria uma nova crise com a Marinha e mostrou que os outros almirantes que poderiam vir na linha de sucessão para ocupar o cargo máximo da organização militar seriam figuras ainda mais difíceis, o que por fim fez o presidente enterrar, pelo menos por ora, a ideia de demitir o comandante.