Por Jolivaldo Freitas

O governo federal anunciou a retomada do programa Mais Médicos, com a abertura de 15 mil novas vagas. O programa, criado em 2013 e marcado pela contratação de médicos cubanos, passa a incluir outras áreas de saúde, como dentistas, enfermeiros e assistentes sociais, e promete priorizar profissionais brasileiros. Do total de novas vagas para este ano, 5 mil serão abertas por meio de edital já neste mês de março. As outras 10 mil serão oferecidos em formato que prevê contrapartida de municípios. O investimento é de R$ 712 milhões por parte da União apenas em 2023.

Mas o governo não avaliou a seguinte premissa: o médico vai mesmo querer sair do litoral? Médico adora uma praia. Médico adora shopping. Médico adora bons restaurantes. Médico adora teatro. Médico adora cinema. A senhora acha que por módicos 12 mil reais por mês ele vai sair da orla marítima para o sertão brabo, a caatinga, a chapada, a floresta? Vai nada. Ele prefere dar dois plantões diários para ganhar menos que os 12 mil, mas ter a vantagem de estar na zona urbana.

Daí a senhora me diz que estou sendo cruel e drástico com os médicos. Minha senhora, eu respondo, certa feita fazendo campanha política numa grande cidade baiana, quarta em tamanho e desenvolvimento, tive o insight de convencer o prefeito que era candidato à reeleição, com base na expectativa da população, de criar vários postos de saúde nos bairros e um hospital. Ele fez isso, mas qual foi o meu pecado? Somente dois médicos atenderam ao edital de contratação. Médico não gosta de sair da beira do mar para ir para a beira do rio ou da lagoa ou do açude.

O programa relançado agora pelo governo é classificado como essencial para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para a sociedade brasileira. O governo está empenhado em fortalecer o programa e que o Mais Médicos volte para responder ao desafio de garantir a presença de médicos a cidadãos de municípios mais distantes dos grandes centros e que sofrem com a falta de acesso.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o programa Mais Médicos foi um sucesso excepcional e que poucas vezes o povo pobre recebeu o tratamento que teve depois que o programa foi colocado em funcionamento. Lula destacou que a maioria das pessoas pobres deste país ainda morre sem ser atendida pelo tal do especialista, que podia ser a coisa mais comum, mas não é. O programa para o Brasil tem como objetivo fixar profissionais de saúde em áreas de extrema pobreza, permitindo o acompanhamento, a prevenção e a redução de agravos na saúde. A previsão é que, até dezembro, cerca de 28 mil profissionais sejam fixados no país, garantindo atendimento médico na atenção primária para 96 milhões de pessoas. Anote: eu duvido que a meta seja alcançada.

E olha que a oferta é muito boa. Além do salário, casa e comida os médicos que participam do programa poderão fazer especialização e mestrado por um período de até quatro anos. Os profissionais também passarão a receber benefícios, proporcionais ao valor mensal da bolsa, para atuar nas periferias e em regiões remotas. No caso de médicas, será feita ainda uma compensação para atingir o mesmo valor da bolsa durante o período de seis meses de licença maternidade, complementando o auxílio pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Já para os participantes do programa que se tornarem pais, será garantida licença com manutenção de 20 dias.

Profissionais formados por meio do Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) e que participarem do programa também poderão receber benefícios. Mas, apesar disso, não tem nada que tire o médico das capitais litorâneas.
————————————————
Escritor e jornalista. Email: [email protected]