Com a pandemia de Covid, aumentou o tempo de espera na fila e o cenário brasileiro é de mais pessoas com problemas devido a sequelas do coronavírus, baixo número de doadores e a existência de centros especializados em apenas quatro estados. A ECMO, conhecida como “pulmão artificial”, tem papel fundamental tanto no suporte aos pacientes que aguardam pelo novo órgão quanto no pós-operatório

O contexto da pandemia de Covid-19 trouxe boas e más notícias para quem aguarda um transplante de pulmão no Brasil. O avanço positivo foi o maior desenvolvimento técnico e de equipes médicas na terapia que ficou conhecida como “pulmão artificial”, ou ECMO (sigla em inglês para Oxigenação por Membrana Extracorpórea), que salvou centenas de pessoas no país vítimas de casos graves de coronavírus e agora se tornou um suporte ainda mais presente para pacientes que aguardam o transplante pulmonar ou para a recuperação no pós-operatório. O lado negativo é que a espera por um transplante de pulmão aumentou (pela falta de doadores) e houve acréscimo na fila de pacientes que apresentaram sequelas em decorrência da Covid-19 (muitos se tornaram pneumopatas, com irreversibilidade de quadro pulmonar), segundo especialistas.

Cerca de 254 pessoas (sendo 241 adultos e 13 crianças) aguardam pelo novo órgão, de acordo com o último registro do balanço publicado pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), no período de janeiro a setembro de 2021. No começo da pandemia, houve queda de 37% no número de transplantes de órgãos feitos no Brasil, sendo o transplante pulmonar um dos mais afetados, com queda de 66,7% de 2019 para 2020. Neste primeiro semestre de 2021, apresentou aumento de 33,3%, mas continua 25% abaixo da taxa de 2019, segundo dados da associação. O tempo médio de espera por um novo pulmão pode durar até 3 anos, dependendo da região do país. Um dos limitadores é que existem centros especializados no transplante pulmonar em somente quatro estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Ceará.

“Nem 5% da demanda por transplante pulmonar consegue ser atendida no país”, afirma o médico pneumologista e coordenador do serviço de pneumologia da Rede Materdei de Saúde, Bruno Horta Andrade. “Precisamos, prioritariamente, criar na população uma cultura de doação de órgãos. No exterior, isso é mais aceito. Uma pessoa que doa todos os órgãos pode salvar até 6 vidas e o impacto disso para a sociedade é muito bem-vindo.”

O transplante pulmonar é um procedimento complexo, que envolve riscos elevados, e só se tornou viável no Brasil a partir de 1983. Segundo dados da Internacional Society for heart and lung Transplantation (ISHLT), são realizados mais de 5.000 transplantes de pulmão no mundo por ano.

No Brasil, um exemplo de sucesso foi o caso da aposentada Cláudia Aparecido Faustino, de 49 anos, moradora de Alvinópolis, cidade do interior de Minas Gerais. Ela conta que esperou cerca de 8 meses pelo transplante. Era portadora de linfangiomatose pulmonar, doença rara que acomete gravemente os pulmões e acarreta insuficiência respiratória. Hoje, curada, não consegue se recordar de quanto tempo teve que conviver com a doença, antes do transplante, realizado em 2003, no Hospital das Clínicas em Belo Horizonte. “Foram meses que fiquei de cama ou internada em hospitais. Não conseguia respirar sem ajuda do aparelho de oxigênio. Quando os médicos me avisaram que o transplante seria minha única saída, confesso que fiquei com medo, mas era o único jeito de salvar minha vida”.

 

Importância da ECMO na melhoria da qualidade de vida do transplantado

A terapia ECMO se popularizou durante a pandemia da Covid-19 e hoje tem papel fundamental também no tratamento desses pacientes que estão aguardando por um novo órgão, atuando como suporte tanto cardíaco como pulmonar.

Segundo o cirurgião cardiovascular do time da empresa ECMO Minas, Felipe Becker Magalhães, o procedimento é uma ponte para o transplante, além de dar condições ao paciente para aguardar por mais tempo o procedimento. “Diante dos inúmeros detalhes que envolvem essa cirurgia complexa e de grande porte, a ECMO é um auxílio no intraoperatório e pós-operatório imediato desse tipo de transplante, contribuindo para a recuperação de pacientes graves”, acrescenta.

A médica cardiologista e sócia-diretora da ECMO Minas, Marina Fantini, explica que o paciente transplantado, em caso de uma intercorrência aguda, se não tiver o apoio da ECMO, pode chegar a um risco de 90% de mortalidade: “Não existe um exame para indicar possibilidade de rejeição. Por isso, a ECMO é fundamental para garantir o sucesso do transplante, diminuir a mortalidade e dar maior chance e qualidade de vida ao paciente transplantado”.

No Brasil, as principais doenças que levam ao transplante pulmonar são: fibrose pulmonar e cística, hipertensão pulmonar e bronquiectasias. Para ser encaminhado ao procedimento, o paciente deve ter menos de 65 anos de idade e será identificado pela ordem cronológica da inscrição na fila, o tipo sanguíneo e o tamanho do órgão para cada receptor.