FHC era freguês da Odebrecht, mas Moro e MPF em Curitiba não quiseram nem saber
No dia 21 de setembro de 2010, pouco antes da eleição, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso enviou um email a Mercelo Odebrchet, com um singelo e revelador indicativo de assunto:
“O de sempre”.
Odebrecht certamente já sabia do que se tratava.
Não era um eventual “pedido” de recursos para o partido, não registrados pelas campanhas do PSDB. Ou seja, “caixa dois”, como se costuma dizer quando envolve outros partidos.
Naquele e-mail, FHC pede perdão pela insistência e volta a solicitar “o de sempre”, desta vez para a campanha de Flexa Ribeiro, candidato a senador pelo PSDB do Pará:
FHC: “Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem a posição que os leva ao exito”.
Odebrecht: “Flexa não sei dizer, mas vou verificar”.
No dia 13 de setembro, FHC havia enviado o primeiro email ao empreiteiro, com um direto indicativo de assunto, “pedido”, para reforçar a conversa que tiveram durante um jantar em que o ex-presidente pediu socorro ao amigo:
FHC: “O candidato ao Senado pelo PSDB do Mato Grosso, Antero Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dados bancários”.
Em resposta, Marcelo Odebrecht falou para ele ficar tranquilo:
Odebrecht: “Depois aproveito e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos”.
É a primeira vez, que o nome de FHC aparece, com provas, como arrecadador de recursos para campanhas tucanas, mas o assunto não mereceu manchetes no noitciiário.
O que aconteceu?
Marcelo Odebrecht ficou mais de dois anos preso em Curitiba sob os cuidados de Sergio Moro, que o condenou, mas nunca foi chamado pelo juiz para esclarecer o conteúdo dos emails encontrados nos discos rígidos do computador do empresário.
A troca de mensagens foi localizada por peritos da Polícia Federal e anexada a um dos processos em que o ex-presidente Lula é réu, segundo relata Ana Luiza Albuquerque, na Folha.
Por que só foi revelada agora pela revista Veja? Não vinha ao caso?
São muitas as perguntas e dúvidas que envolvem esta extemporânea denúncia que envolve os nomes de dois ex-presidentes, por acaso um do PSDB e outro do PT.
FHC não se limitava a pedir recursos à Odebrecht para as campanhas tucanas.
Numa outra troca de mensagens, em dezembro de 2010, o assunto era “iFHC”, o nome do instituto criado pelo ex-presidente, com recursos fornecidos por grandes empresas, no final do seu segundo mandato, em 2002.
Neste e-mail, André Amaro, presidente da Odebrecht Defesa e Tecnologia, diz a Marcelo que, em alinhamento com Emílio Odebrecht, informou a um certo “Daniel” que a empreiteira contribuirá com R$ 1,8 milhão em 24 meses, “conforme acertado no último encontro dos empresários no instituto”.
Não seria interessante, só por curiosidade, saber quem era esse “Daniel”, ou a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba não tem tempo para perder tempo com isso?
A resposta de Marcelo Odebrecht:
“Ele me comentou. Parece que meu pai puxou para cima. Deixe meu pai avisado”.
Saberemos algum dia o final desta história?
Procurado pela Folha, FHC disse via assessoria:
“Posso ter pedido, mas era legal. Não sei se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois na época eu estava fora dos governos, da República e do Estado”.
Sim, em 2010 FHC estava há oito anos afastado do governo central, mas o PSDB continuava disputando eleições.
Existe em campanhas algo chamado “expectativa de poder” que move os doadores de recursos e FHC certamente conhece este fenômeno.
O candidato tucano José Serra chegou a liderar as pesquisas na eleição presidencial e o PSDB tinha grandes chances de manter o poder em Minas e São Paulo, além de Ceará e Mato Grosso, onde a empreiteira tem interesses.
FHC também conhece, certamente, aquela expressão de que não há “almoço grátis”.
Ao contar esta história, reforço a minha impressão, cada vez mais generalizada, de que na nossa Justiça impera a teoria de dois pesos e duas medidas, a depender de quem são os políticos envolvidos.
Uns vão para a cadeia; outros não são nem importunados, mesmo que haja provas cabais para a instalação de processos.
Vida que segue.
Fonte: JornalGGN