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O parlamentar Roberto Cuero afirmou que assassinato do candidato presidencial “foi para prejudicar a vitória de Luisa González no primeiro turno”

Por LEONARDO WEXELL SEVERO

Representando o movimento Revolução Cidadã (RC), o parlamentar Roberto Cuero apresentou nesta terça-feira (26) uma ação constitucional em que cobra informações públicas sobre o assassinato do candidato presidencial Fernando Villavicencio, ocorrido no dia 9 de agosto, “quando faltavam apenas 11 dias para as eleições”.

Na coletiva de imprensa realizada na sede da RC em Guayaquil, o integrante da Assembleia Nacional foi enfático ao denunciar que “não há transparência” na investigação da execução de Villavicencio com três tiros na cabeça, crime que diz ter sido perpetrado sob encomenda para prejudicar a candidatura de Luisa González.

“Se foram capazes de assassinar um candidato presidencial para nos prejudicar no primeiro turno, são capazes de inventar qualquer coisa para nos prejudicar no segundo turno [no próximo dia 15 de outubro]. Por isso, apresentei uma ação constitucional de acesso à informação pública para que este execrável fato seja esclarecido e que me forneçam, como cidadão e deputado eleito da província de Guayas, as informações pertinentes para estas investigações”, explicou.

Conforme o dirigente, se a bárbara execução não tivesse acontecido, Luisa teria ganho já no dia 20 de agosto, pois ultrapassaria os 40% dos votos necessários com 10% de diferença sobre o segundo colocado, Daniel Noboa, filho do bilionário Álvaro Noboa, dono de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Equador.

A partir da morte e com as fake news veiculando massivamente Villavicencio como o “maior inimigo” do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), Christian Zurita, nome que substituiu o morto na cédula, saltou de 7,5% das intenções de voto na pesquisa realizada nos dias 5 e 6 de agosto para 16,37% nas urnas.

“VILLAVICENCIO ERA MAIS ÚTIL MORTO DO QUE VIVO”

“Há uma campanha nas redes em que nos culpam pela morte. Quem ganha com isso é a extrema-direita, pois sabiam que íamos vencer no primeiro turno e isso nos tirou pontos”, declarou Rafael Correa, reiterando que foi “um crime claramente político”.

O ex-presidente assinalou que para chegar a esta conclusão basta analisar como Villavicencio foi entregue solitário nas mãos dos assassinos. “Ele estava sob proteção policial, era alvo de várias ameaças de morte. E o colocam dentro de uma camionete sem motorista, desligada, que não era seu carro. Ele havia chegado em um carro blindado, já havia se comunicado com seus guarda-costas, que esperavam que ele saísse pela porta de trás do prédio onde estava, como era o protocolo de segurança. Mas o retiram pela porta da frente, em uma rua muito movimentada. Como se explica isso?”, questionou. A realidade nua e crua, acrescentou Rafael Correa, “é que o entregaram à morte porque é um complô, uma conspiração política, com envolvimento da polícia. Ele estava em quarto ou quinto nas pesquisas, não ia ganhar nunca, então era mais útil morto do que vivo. E para nos prejudicar, já que somos seus arquirrivais políticos”.

A mesma avaliação é compartilhada pelo correspondente da HispanTV nas eleições equatorianas, Andrés Sal.lari, para quem nunca houve a menor sombra de dúvida de que o crime beneficiaria a ultradireita. O fato, esclareceu, é que “muitos meios de comunicação sugerem que foi Correa, exilado na Bélgica, quem mandou matar Villavicencio”. “Isso tudo porque ele dizia que Correa tinha um acordo com o jornalista Julian Assange, fundador do WikiLeaks. E que iria mantê-lo asilado na Embaixada do Equador em Londres para que escondesse supostos casos de corrupção. Falava até de fundos secretos que Correa teria para o caso Assange”, recordou o jornalista argentino.

“MAUS FUNCIONÁRIOS SE VENDERAM AO PODER DE PLANTÃO”

Ex-integrante da Assembleia Nacional, Ronny Aleaga participou de forma virtual do evento organizado pelo RC e reiterou que respalda todas as ações que o movimento tem realizado para que “a verdade brilhe”.

Aleaga defende que a ação judicial penalizará os “maus funcionários que se venderam ao poder de plantão” e responsabilizou diretamente o governo nacional, os altos funcionários da polícia e os agentes que supostamente estão encarregados das investigações, pelo que puder vir a ocorrer com a minha segurança, a minha vida e a da minha família”. “As provas serão conclusivas e não vão dobrar a vontade popular”, frisou.

Na mesma terça, quando faltavam 18 dias para a conclusão da jornada eleitoral, Luisa se comprometeu a recuperar a paz de maneira urgente no país andino. A candidata divulgou um vídeo em suas redes sociais onde apontou “medidas urgentes, emergentes e permanentes” que o país necessita para superar o clima de tensão e medo, priorizando investimentos na segurança, na recuperação da paz e na geração de empregos.

ATENTADO À VIDA DE LUISA

No último dia 18 de setembro, acompanhada de seu vice, Andrés Arauz e de inúmeros ativistas, Luisa González foi até o Ministério Público exigir rapidez e atenção ao processo sobre o atentado à sua vida. Apesar do plano do assassinato ser conhecido desde 30 de agosto, com a prisão de um dos criminosos com três granadas e de um outro munido de metralhadora, a investigação não avançou um milímetro. Na avaliação da líder oposicionista, é preocupante que um processo de tal magnitude venha sendo obstaculizado pelo governo, às vésperas da eleição.

“Apresentei uma denúncia que representa não só a necessidade de me salvaguardar, de esclarecer este processo e encontrar os responsáveis por um possível atentado à minha vida, mas também de todos os equatorianos, porque esta é a impunidade com que vivemos. Os processos não se esclarecem nem avançam”, condenou Luisa.