Luís Fernando Lopes*

Tenhamos ou não uma religião, acreditemos ou não na existência de Deus, o fato é que habitamos uma casa comum e mais do que isso, somos parte dessa casa, ou seja, somo constituídos pelos mesmos elementos que formam o nosso planeta. Assim, não somos donos do planeta, mas fazemos parte dele. Não apenas habitamos a terra, mas somos feitos dos mesmos elementos que ela. Não por acaso, São Francisco de Assis que foi considerado a personalidade do milênio passado, chamava a Terra de irmã e mãe.

Carl Sagan já tinha afirmado que somos feitos de poeira das estrelas. E nesse sentido, uma pesquisa realizada com o uso de um espectrógrafo denominado Apache Point Observatory Galactic Evolution Experiment (APOGEE), que fica no estado norte-americano do Novo México comprovou que tanto os astros brilhantes quanto os seres humanos têm 97% do mesmo tipo de átomos. Os astrônomos chegaram a essa conclusão após analisar mil e quinhentas estrelas de nossa Via Láctea. Essa pesquisa foi possível porque cada elemento emite um comprimento de onda de luz diferente que o espectrógrafo consegue captar.

Mas, mesmo os resultados de pesquisas científicas avançadas, assim como as contribuições de filósofos, sociólogos, antropólogos, líderes religiosos, entre outros não parecem ser suficientes para segurar o ímpeto humano destruidor da natureza cujo leitmotiv é o lucro desmedido.

Os recursos são finitos, o planeta teve um início e certamente terá um fim. Contudo, o egoísmo e a ganância atrelados à apologia da ignorância tendem a acelerar esse processo trazendo consigo consequências desastrosas que recaem também sobre os próprios agentes dessa aceleração. O planeta com tudo o que nele habita e que dele faz parte sofre as consequências da ação antrópica egoísta.

Diante de uma realidade que clama por mudanças no modo de compreender nossa presença no planeta e na forma de nos relacionamos com ele, fomos surpreendidos por uma pandemia que escancarou a fragilidade da vida humana e abalou os alicerces de um sistema marcado por contradições profundas que despertaram tanto atitudes nobres quanto as piores mesquinharias.

Talvez alguns possam considerar forçado dizer que a pandemia é em toda a sua extensão resultado da ação humana no planeta. Mas, ainda que reconheçamos a preponderância de fatores naturais, as consequências da ação humana continuam inegáveis, ainda mais se considerarmos o modo como cada país e cada ser humano em particular tem atuado no combate a essa pandemia.

O antropocentrismo que deveria favorecer o humanismo converte-se no seu oposto. O que de melhor foi produzido ao longo da história, incluindo nessa lista, remédios e vacinas, torna-se privilégio de alguns e a manutenção desses privilégios conduz à desumanização e a destruição progressiva dos recursos do planeta.

Não é possível esperar que a realidade mude se mantivermos formas equivocadas de pensar e agir. O planeta grita por socorro, a humanidade necessita dessas mudanças para que o seu próprio futuro nesse planeta seja salvaguardado. A mudança não cairá do céu, não acontecerá pela ação de super heróis. Ainda que pareça demasiado romântico, é preciso dizer que a transformação precisa partir de cada um. Importar-se com os outros, valorizar a vida, importar-se com planeta e compreender que não somos seus donos, mas fazemos parte dele.  Paz e Bem!

 

 *Luís Fernando Lopes é professor da área de Humanidades da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter