Por Redação – Foto Reprodução/Arquivo Pessoal

A Polícia Civil da Bahia abriu uma investigação depois de ser registrada uma denúncia de escavações em uma área considerada “espaço sagrado” por 17 terreiros de religiões de matrizes africanas no bairro Fazenda Grande do Retiro 4, em Salvador.

A denúncia foi apresentada por Leonel Monteiro, presidente da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afroameríndia (AFA), em 18 de dezembro de 2024. Segundo ele, as escavações, iniciadas em 2019 com o objetivo de construir imóveis, foram paralisadas após a mobilização da comunidade, mas retomadas em novembro de 2024.

O delegado Ricardo Amorim, do Departamento de Proteção à Mulher, Cidadania e Pessoas Vulneráveis (DPMCV), afirmou que a polícia está conduzindo oitivas e coletando informações para identificar os responsáveis e os crimes envolvidos.

A denúncia põe em destaque o risco de desabamento dos terreiros e a destruição de assentamentos e objetos sagrados. “O corte do terreno foi muito severo. Se chover forte, pode ocorrer uma tragédia“, alertou Leonel Monteiro.

A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder) negou qualquer intervenção no local, enquanto a Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo de Salvador (Sedur) enviou equipes de fiscalização para averiguar a situação.

A Polícia Militar da Bahia, por meio da Ronda de Defesa à Liberdade Religiosa (Omnira), está realizando diligências para garantir a segurança da comunidade. Entretanto, a corporação destacou que a apuração de responsabilidades cabe a outros órgãos, como o Ministério Público da Bahia (MP-BA).

O MP-BA informou que a Promotoria de Justiça Especializada de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa abrirá um processo para investigação do caso. A Defesa Civil de Salvador (Codesal) também confirmou que já recebeu a denúncia e está avaliando os riscos de desabamento.

Marcos Resende, diretor do Coletivo de Entidades Negras (CEN), cobrou agilidade nas investigações e destacou a vulnerabilidade dos terreiros. “É inadmissível que no mesmo país onde se celebra a diversidade religiosa, um terreiro seja atacado ou invadido a cada 16 horas“, afirmou.

Luzi Borges, diretora da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, também se manifestou. “Recebemos essa denúncia absurda e estamos buscando soluções com os governos estadual, municipal, o Ministério Público e a Defensoria”, declarou.

A situação segue em análise pelas autoridades, enquanto a comunidade religiosa pede respostas rápidas para proteger seus espaços sagrados e a segurança da região.