Mike Pompeo se tornou nesta quinta-feira (19/11) o primeiro secretário de Estado americano a visitar um assentamento israelense na Cisjordânia ocupada. Ele ainda visitou as Colinas de Golã, território sírio anexado unilateralmente por Israel.

Pompeo se encontrou com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e depois viajou para a Cisjordânia, onde visitou uma vinícola numa colônia israelense, que batizou uma de suas marcas de vinho como “Pompeo” em homenagem ao secretário. Ele não se reuniu com nenhum líder palestino nesta viagem.

Durante a visita, Pompeo ainda disse ser favorável que produtos israelenses produzidos em assentamentos sejam rotulados como “Made in Israel” ou “Produto de Israel” quando exportados para os Estados Unidos. A mudança removeria a distinção entre produtos fabricados dentro de Israel e aqueles produzidos no território ocupado da Cisjordânia.

A posição contrasta com a da União Europeia, que exige que os produtos de assentamentos indiquem sua origem. Em 2019, o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) deu respaldo para a medida, que foi elogiada por grupos de defesa dos direitos humanos e da causa palestina.

Pompeo ainda disse durante sua visita que Washington intensificaria ações contra os esforços pró-palestinos para isolar Israel econômica e diplomaticamente. “Quero que saibam que tomaremos medidas imediatamente para identificar organizações que se envolvam em conduta odiosa de BDS (boicote, desinvestimento e sanções)”, disse ele.

“Consideraremos a campanha global anti-Israel do BDS como antissemita”, acrescentou, em referência ao movimento internacional de boicote e isolamento de Israel por causa do tratamento aos palestinos.

As visitas de Pompeo aconteceram durante um giro do secretário pelo Oriente Médio e serviu de demonstração de lealdade ao primeiro-ministro Netanyahu por parte do governo Trump.

Os dois governos compartilharam laços estreitos nos últimos anos, muitas vezes para a exasperação da comunidade internacional e exarcebando as tensões na região, como no episódio do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. A visita desta quinta-feira foi encarada como uma provocação pelos palestinos e pelos sírios.

Em 2019, o governo Trump também reconheceu a reivindicação israelense de soberania sobre a área das Colinas de Golã, que Israel conquistou em 1967 e mais tarde anexou, uma medida que não foi reconhecida pela maior parte da comunidade internacional. Pompeo disse nesta quinta-feira que o reconhecimento era “historicamente importante e simplesmente um reconhecimento da realidade”.

No ano passado, Pompeo, um cristão evangélico, também rompeu décadas de tradição da política externa americana ao anunciar que os Estados Unidos de Trump não viam mais os assentamentos israelenses na Cisjordânia como “incompatíveis com a lei internacional”.

Essas e outras decisões foram recebidas com desalento pelos palestinos, que boicotaram a administração Trump durante quase três anos acusando-o de se inclinar a favor de Israel.

Críticas à visita

Nesta quinta, autoridades palestinas voltaram a criticar Pompeo, afirmando que o governo Trump está ajudando Israel a consolidar seu controle sobre as terras da Cisjordânia. A liderança palestina cortou laços com a Casa Branca de Trump há três anos.

O negociador palestino Hanan Ashrawi ainda disse que Pompeo está usando as últimas semanas de Trump no cargo “para estabelecer mais um precedente ilegal, violar a lei internacional e talvez promover suas próprias ambições políticas”.

“Pompeo está intoxicado pelo vinho do apartheid roubado de terras palestinas. É oportunista e egoísta e prejudica as chances de paz”, disse Ashraw.

Já o governo sírio criticou a visita de Pompeo às Colinas de Golã como um “passo provocativo antes do fim do governo Trump” e uma “violação flagrante” da soberania síria.

 

Fonte: Deutsche Welle (DW)