Lusa, Reuters, DW – Pela primeira vez, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, admitiu nesta segunda-feira (04/04) seu “erro” de avaliação por ter defendido a necessidade de levar adiante o gasoduto alemão-russo Nord Stream 2, quando era ministro das Relações Exteriores, durante o governo da ex-chanceler federal Angela Merkel.

Steinmeier é um defensor de longa data da reaproximação do Ocidente com a Rússia. No entanto, o presidente alemão disse que a invasão russa à Ucrânia significa que ele e outros têm que reconhecer honestamente onde erraram.

“Meu apoio ao Nord Stream 2 foi claramente um erro”, disse ele. “Estávamos aderindo a uma ponte na qual a Rússia não acreditava mais e contra a qual outros parceiros nos alertaram”.

No passado, Steinmeier foi um membro proeminente de uma ala do Partido Social Democrata (SPD), liderada pelo ex-chanceler Gerhard Schröder, que argumentava que laços econômicos estreitos com a Rússia eram uma maneira de ancorá-la dentro de um sistema global orientado para o Ocidente.

O agora cancelado Nord Stream 2, que críticos consideram ter enfraquecido a Ucrânia ao excluí-la do trânsito de energia, foi uma peça central dessa estratégia.

“Nós falhamos em construir uma casa europeia comum”, disse Steinmeier. “Eu não acreditava que Vladimir Putin abraçaria a completa ruína econômica, política e moral de seu país por causa de sua loucura imperial”, acrescentou. “Nisto, eu, como outros, estava enganado”.

Gerhard Schröder  e Frank-Walter Steinmeier conversam. Foto é antiga
Steinmeier (D) foi chefe da Chancelaria no governo de Gerhard Schröder (E), de 1999 a 2005 Foto: picture-alliance/dpa/H. Hollemann

Steinmeier foi chefe da Chancelaria no governo do social-democrata Gerhard Schröder, de 1999 a 2005 – cargo considerado o braço direito do chanceler federal. Depois, foi ministro das Relações Exteriores sob o comando da conservadora Merkel de 2005 a 2009 e de 2013 a 2017, antes de se tornar  presidente.

Quando Steinmeier esteve à frente da Chancelaria, Schröder e o seu aliado político, o presidente russo Vladimir Putin, assinaram o acordo para a construção do primeiro gasoduto, o Nord Stream 1, que se tornou operacional em 2011.

O acordo foi firmado meses antes da chegada de Merkel ao poder, em 2005. Depois, Schröder se tornou chefe do conselho do Nord Stream, posição que ainda ocupa, apesar da pressão atual para romper com Putin.

Em 2011, após o início do funcionamento do primeiro gasoduto, foi acordada a construção do Nord Stream 2, para aumentar o transporte direto de gás russo para a Alemanha através do Mar Báltico.

Este segundo projeto permaneceu em vigor apesar da anexação pela Rússia da região ucraniana da Crimeia, em 2014. Na época, a decisão foi tomada por Merkel e seus então parceiros, os sociais-democratas de Steinmeier.

Suspensão do Nord Stream 2

Após semanas de exitação e em meio à pressão de aliados, o atual chanceler federal, o social-democrata Olaf Scholz, suspendeu a licença para a implementação do Nord Stream 2 um dia após a Rússia reconhecer a independência de duas autoproclamadas repúblicas populares no leste da Ucrânia.

No entanto, a Alemanha vem rejeitando categoricamente a possibilidade de embargar petróleo, gás e carvão importados da Rússia devido à sua forte dependência energética de Moscou.

A Ucrânia critica esta posição, e o próprio presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, desafiou Merkel a “visitar Bucha” para ver in loco as atrocidades cometidas pelas tropas russas na cidade.  Numa mensagem de vídeo, o líder ucraniano afirmou que as graves atrocidades cometidas por militares russos nos subúrbios de Kiev eram resultado da política adotada nos últimos anos em relação à Rússia.

O governo polonês também pediu a Berlim que endureça as sanções contra a Rússia e interrompa as importações de gás, petróleo e carvão russos.