Por Folha de S. Paulo – Foto Agustin Marcarian/Reuters

O segundo dia de protestos contra as reformas liberais de Javier Milei na Argentina teve novos confrontos entre policiais e manifestantes. Os agentes usaram balas de borracha, cassetetes, sprays de pimenta e motocicletas para impedir que o grupo bloqueasse as ruas ao redor do Congresso Nacional.

É ali dentro que deputados discutem a chamada “lei ônibus” desde quarta-feira (31), em longas sessões que devem se estender pelo menos até esta sexta (2). Isso porque o plenário precisa votar o projeto em geral e depois discutir artigo por artigo para chegar ao texto final, que originalmente tinha 664 pontos e agora já tem menos de 400.

O clima voltou a esquentar na tarde desta quinta (1º), quando organizações sociais e de esquerda, assim como pessoas sem ligação com nenhum grupo, ocuparam novamente a praça em frente ao Legislativo. Ao menos 21 profissionais da imprensa teriam ficado feridos pelos projéteis ou por passarem mal com o spray, segundo uma lista de nomes lida no plenário por um deputado da esquerda.

O primeiro tumulto aconteceu por volta das 18h: uma fileira de policiais usou escudos para reprimir pessoas que estavam em cima da calçada. A situação logo se estabilizou, mas, momentos depois, um grande efetivo de agentes federais desembarcou em caminhões em frente ao edifício, o que elevou a tensão.

Nos primeiros dias de seu mandato, em dezembro, Milei instituiu um novo protocolo com tolerância zero contra o fechamento de vias por manifestantes, os chamados piquetes, criticados por parte da população. O protocolo inclui o uso de forças federais para romper o método de protesto utilizado por organizações sociais.

Seguindo esse protocolo, os policiais formaram fileiras na intenção de retirar manifestantes que bloqueavam uma rua na lateral da praça. Houve vários focos de confronto nas duas horas que se seguiram, e os manifestantes reagiram à ação policial com cabos de bandeiras e garrafas de água.

Os agentes retiravam os grupos das vias, mas aos poucos eles voltavam. Diante da resistência, um efetivo de moto passou a fazer movimentos circulares e a atirar com balas de borracha, em geral em direção ao chão, provocando correria. Um desses projéteis, já à noite, atingiu a canela de um fotojornalista, que saiu caminhando ensanguentado.

Por volta das 21h, voltaram a acontecer confrontos depois que os manifestantes fecharam a avenida principal. A Folha presenciou pelo menos dois homens sendo detidos, carregados pelas pernas e pelos braços por agentes para dentro do edifício do Congresso.

Deputados da coalizão de oposição peronista, União pela Pátria, abandonaram a sessão e foram às ruas em meio à confusão. Por volta das 21h15 a situação havia se estabilizado, mas um grande grupo seguia ocupando a praça com bandeiras e faixas contra a lei de Milei, enquanto policiais mantinham uma longa barreira em frente à Assembleia.

Grande parte da oposição na Câmara tem sinalizado que vai apoiar as reformas de maneira geral, mas discordar de pontos específicos. Os pontos que geram mais divergências são a concessão de poderes especiais ao presidente enquanto durar a situação de emergência no país e a privatização de cerca de 40 empresas estatais.

No primeiro dia de protestos, parte dos manifestantes que ocupavam a mesma praça em frente ao Congresso já haviam fechado pistas de avenidas próximas. Ao menos um policial saiu ferido e cinco pessoas foram detidas.

Quatro delas eram mulheres e foram liberadas apenas na manhã desta quinta (1º). Em vídeos nas redes sociais, elas contaram que não se conheciam: “Passamos 12 horas presas por cantar o hino nacional pacificamente sentadas em frente ao Congresso”, disse uma das militantes, Ivanna Bunge.

Também houve outros incidentes. Um apoiador de Milei e um jornalista do canal LN+, do mesmo grupo do jornal La Nacion, foram agredidos por dois manifestantes. O primeiro levou um soco, e o segundo, uma cuspida, ambos registrados em vídeos.