Em dia de mudanças ministeriais, a demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, revela um processo de deterioração das relações do governo com as Forças Armadas. Quem afirma é o cientista político Danilo Bragança em entrevista à Sputnik Brasil.

Em nota oficial, Azevedo e Silva anunciou que sai com “certeza da missão cumprida”, afirmando que preservou “as Forças Armadas como instituições do Estado”.

O cientista política e professor de Relações Internacionais da UFF, Danilo Bragança, disse à Sputnik Brasil que todas essas movimentações do governo indicam mudanças muito fortes no jogo de forças da política brasileira.

De acordo com ele, a mudança de ministros que agitou a vida política do país no começo desta semana sugere que estejamos entrando no limite da governabilidade de Bolsonaro e das relações do bolsonarismo com outras instituições e poderes.

“O legislativo que forçou a saída de Ernesto Araújo, o judiciário que tem reprovado ou negado demandas que são absolutamente absurdas por parte do governo Bolsonaro, e parece que há um elemento a mais nesse processo tudo ainda a se confirmar, que é a resistência das Forças Armadas”, observou.

De acordo com Danilo Bragança, a chegada do centrão, a partir dos acordos que levaram Arthur Lira e Rodrigo Pacheco à presidência da Câmara e do Senado, respectivamente, acabou virando um obstáculo para o governo Bolsonaro.

“Se imaginava no começo um governo formado por uma base evangélica muito forte, uma base de policiais militares e as Forças Armadas […] Essa base aos poucos ficou sendo formada somente pelas Forças Armadas, tendo à frente de ministérios-chave como Defesa, da Saúde, da Infraestrutura, entre outros, militares da ativa ou da reserva”, declarou

Presidente Jair Bolsonaro, chefe supremo das Forças Armadas brasileiras, chega para o evento em homenagem ao Dia da Vitória no Rio
© FOTO / TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL Presidente Jair Bolsonaro, chefe supremo das Forças Armadas brasileiras, chega para o evento em homenagem ao Dia da Vitória no Rio

O especialista argumentou que a saída de Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde já havia indicado um certo desgaste, porque “embora Pazuello tenha sido um ministro catastrófico para o nosso país, no geral ele tinha algum respaldo das Forças Armadas”.

“A saída do Pazuello representou um processo de deterioração também das relações entre as Forças Armadas e Bolsonaro, entre esse partido militar propriamente dito que está no governo e as Forças Armadas enquanto instituição. Esta relação foi ruindo”, afirmou.

​O especialista avaliou que as mudanças ministeriais desta segunda-feira (29) revelam um processo de deterioração das relações do governo com as Forças Armadas, ao mesmo tempo que há um processo de “acomodação” das relações entre o governo, o Executivo e o Legislativo, sobretudo com o Senado, que atacou duramente o Ernesto Araújo no Ministério das Relações Exteriores.

“É um momento de ruído de comunicação, de desentendimento, de desinteligência entre o Executivo federal, o partido militar que está no governo, e as Forças Armadas, que tem o general Fernando Azevedo e Silva como um dos mais antigos dentro do governo”, completou.

O ex-ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, estava à frente do Ministério da Defesa desde o início do governo de Jair Bolsonaro.

Fonte: Sputnik Brasil