Por Maria Cecília Freire

“Viver todos os dias na presença daqueles que se recusam a reconhecer sua humanidade exige muita coragem.”

Min Jin Lee foi para os Estados Unidos ainda criança, construindo sua carreira como jornalista e escritora no país. Pachinko começou a ser escrito na década de 80 e até sua publicação passou por várias edições, durante esse período a autora morou no Japão e realizou uma série de entrevistas com os Zainichi, coreanos naturalizados japoneses ou com autorização de moradia permanente, que em sua maioria migraram para o Japão na época da ocupação japonesa na Coreia (1910-1945). Durante suas pesquisas a autora leu diversos arquivos, mas foi durante as entrevistas que encontrou um compilado de histórias das famílias coreanas que passaram suas vidas entre as décadas de 1910-1980, em meio a ocupação.

Uma experiência impactante e uma baita aula de História. Pachinko nos traz Sunja como sua protagonista, em uma Coreia pré Segunda Guerra e anexada ao Japão. A jovem habita uma pequena comunidade pesqueira na ilha de Yeongdo ao sul da península coreana. Aos 17 anos se apaixona um influente comerciante coreano que transita livremente entre Japão e Coreia. Ela acaba engravidando dele e ao dar a notícia de sua gravidez, é confrontada com a dolorosa verdade de que o homem que amou é casado e tem filhos no Japão. Na pensão em que Sunja trabalha com sua mãe, um pastor a caminho de assumir posto em uma paróquia em Osaka cai doente por conta de um grave estado de tuberculose, mãe e filha cuidam dele que em agradecimento casa-se com Sunja e assume seu filho.

Pachinko passa pelo período de quase 80 anos, mostrando três gerações da família Baek e a luta de uma mãe disposta a fazer qualquer sacrifício por seus filhos. Lutando contra a discriminação crescente no Japão, Sunja se encontra em situações onde suas escolhas afetarão diretamente as próximas gerações de sua família. Desde de muito nova descobrindo o quão cruel pode ser o mundo, ela não tem escolha a não ser cuidar daqueles que mais importam, seus filhos.

Min Jin Lee nos apresenta uma Coreia tomada pelo Japão e mostrando com muita sensibilidade e respeito os acontecimentos terríveis daquela época. Pachinko é o tipo de livro que precisa ser lido para que você sinta a experiência incrível que a história apresenta. A autora faz uma analogia ao jogo pachinko (jogo de caça-níquel japonês), que se torna o ponto de convergência das preocupações centrais da história, sendo os salões de jogos o principal meio de arranjar trabalho e conseguir juntar dinheiro.

Com uma leitura fluída, você consegue acompanhar sem muito esforço os períodos de tempo e as histórias dos personagens e suas características únicas, de salões de jogos aos corredores das universidades japonesas, as escolhas de uma pessoa podem afetar até 4 gerações de seus descendentes.

Esta obra possui adaptação em série, da qual foi produzida pela Apple TV+ e dirigida por Kogonada e Justin Chon.

O que é o pachinko?

Jogo de pinboll japonês que se assemelha ao caça-níquel, pachinko é um jogo de azar muito popular no Japão, tanto que estima-se que essa indústria gere 900 bilhões de dólares por ano. Na lei japonesa, jogos de azar são proibidos, mas o pachinko ocupa um lugar entre o legal e o ilegal.

A grande maioria dos salões de pachinko é comandada por zainichi. Durante o século XX, os coreanos foram empurrados para empregos marginalizados, como o jogo ligado à máfia japonesa Yakuza.