Janary Bastos Damacena

Eu fui pai aos 21 anos e, apesar de não ser mais um adolescente, a minha vida inteira mudou a partir daquele momento. Para ser bem honesto, tudo já havia mudado quase um ano antes, quando eu ainda tinha 20 anos e acabava de saber que minha namorada estava grávida.

Eu fui pai aos 21 anos e, apesar de não ser mais um adolescente, a minha vida inteira mudou a partir daquele momento. Para ser bem honesto, tudo já havia mudado quase um ano antes, quando eu ainda tinha 20 anos e acabava de saber que minha namorada estava grávida. Foi um baque absurdo que me deixou perdido por algum tempo. Dali em diante, eu teria a responsabilidade cuidar de uma criança, ensinar os primeiros passos e mostrar como nosso mundo funciona. Confesso, que estava assustado. Como não ficaria? Não houve um planejamento para aquela situação, aquele momento. Será que eu daria conta de tomar conta de uma pessoinha tão dependente de tudo para viver?

A maior parte disso tudo passou bem rápido, bastou que eu desse a primeira olhada no Arthur, todo miudinho e encolhido, envolvido em uma manta verde clara enquanto dormia no berço do hospital. Meu coração acelerou sem que eu nem percebesse, parecendo que sairia peito à fora. Enquanto eu olhava aquele bebezinho, parecia que o mundo ao meu redor havia parado de girar e eu não conseguia pensar em nada, apenas sentia as emoções que chegavam naquele momento. Quando voltei aos sentidos plenos, notei que estava prendendo a respiração sem motivo algum. Então relaxei e pensei “vai dar tudo certo”.

Aqueles dias foram muitos difíceis. Tão complicados que quando a madrugada caia e a cidade estava em silêncio, eu me aninhava na janela do apartamento observando absolutamente nada e pensava em silêncio. Refletia sobre sacrifício e dedicação. Recordava sobre tudo o que meus pais fizeram por meus irmãos e eu, e em como eu poderia repassar um pouco disso ao meu pequeno Arthur. Pensava no que eu podia fazer por ele, no conforto, na saúde, nos estudos, na diversão, no carinho e no amor. Fui sempre adiante.

E, assim, o tempo transcorreu na sua forma constante e inabalável enquanto, para nós mortais, a impressão seja a de que algumas horas correm e outras se desenrolam vagarosamente. Hoje olho para trás, contemplando esses 14 anos, vejo nitidamente que poderia ter sido mais fácil, algumas formas de trabalhar a vida poderiam ter sido outras, mas como eu poderia saber? Era pouco mais que um jovem adolescente com toda sua pressa em ter o mundo na hora! Tive a sabedoria de meus pais como guia enquanto seguia nessa jornada e não poderia ser mais feliz com meu garoto, que hoje já está mais alto que eu.

Mas o que me fez retomar esses pensamentos a poucos dias, foi uma notícia que me deixou espantado: uma recente pesquisa revelou que mais de 20 mil meninas menores de 15 anos engravidam todos os anos no Brasil. E se este número por si só, não lhe for perturbador, pense em todos os contextos possíveis a qual essas relações aconteceram… enfim, para além desses questionamentos, me peguei aflito por essas meninas que não tem a menor noção da vida e seus potenciais para já estarem a cargo de um filho. Uma criança cuidando de outra. Me detive por algumas horas, absorto por aquela informação, fazendo um paralelo com minha própria história. Tudo realmente tem seu tempo e não precisamos apressar a vida.