Por Danilo Andrade* 

Enquanto a comunidade científica busca uma solução definitiva para a Covid-19, o mundo teve de se adaptar rapidamente, adotando inúmeras medidas para evitar riscos. Não foi diferente para a indústria de transporte aéreo, atividade que sempre teve verdadeira obsessão por Segurança. Nos últimos tempos, o setor aéreo tem comemorado números sem precedentes em termos de qualidade da Segurança Operacional. E é muito gratificante acompanhar a melhoria, ano após ano, dos já baixíssimos índices de acidentes e fatalidades.

Isso se torna ainda mais inspirador quando se pensa no tamanho e na importância da aviação como meio de transporte de massa: em 2019, cerca de 4,5 bilhões de pessoas cruzaram os céus do mundo a bordo de uma aeronave, ou seja, mais da metade da população do planeta. Só na GOL foram mais de 36 milhões de Clientes transportados.

A partir de números revelados por órgãos como Oaci e Iata, é possível demonstrar a dimensão dos indicativos atuais: para correr algum risco de acidente fatal, um passageiro precisa voar todos os dias, sem exceção, durante cerca de 27 mil anos. Incrível, não?

Índices tão promissores não são obra do acaso. A tecnologia tem ajudado muito, seja por meio de aeronaves e motores cada vez mais confiáveis, seja por conta dos avançados sistemas de controle de tráfego aéreo ou por meio de sofisticadas análises de dados. O treinamento também tem evoluído rapidamente, combinando conhecimentos técnicos com habilidades de gestão para tripulantes e times de solo. As agências reguladoras, como a Anac, também têm contribuído, com requisitos cada vez mais exigentes e, ao mesmo tempo, inteligentes.

Contudo, talvez o mais importante fator para que o transporte aéreo tenha se tornado o meio de transporte mais seguro do planeta seja, a capacidade de aprender colaborativamente. As empresas aéreas possuem processos robustos e controles precisos, capazes de identificar rapidamente qualquer problema que possa afetar a Segurança. E essas informações são compartilhadas o tempo todo, permitindo que as soluções tenham mais qualidade e sejam incorporadas prontamente por todas as companhias.

Esse compartilhamento é feito por meio de uma série de fóruns, grupos de trabalho e reuniões específicas. É o momento em que se baixa a guarda da competitividade para deixar emergir o espírito colaborativo. Com a iniciativa de dividir umas com as outras, de relatórios de Segurança a avisos sobre pistas escorregadias à vista, o que se forma é uma rede de conhecimento coletivo que favorece a indústria e, sobretudo, os Clientes.

Nesse momento de pandemia, essas mesmas práticas têm sido utilizadas para que o setor aéreo possa aplicar rapidamente as melhores condutas e as mais recentes descobertas sobre formas de reduzir a possibilidade de contágio pelo novo coronavírus.

O engajamento pró-uso de máscaras pelos Clientes, estabelecido em maio, e de forma pioneira na GOL, foi um sucesso e teve adesão total – destaca-se que, mesmo antes da exigência, 96% deles já as estavam utilizando. Álcool em gel à disposição de todos na cabine, readequação do serviço de bordo, com menor contato físico, e intensificação da limpeza da aeronave (agora em nível hospitalar), são apenas algumas das inúmeras medidas de combate à Covid-19 das quais lançamos mão. Isso, sem falar da poderosa presença do filtro HEPA, que elimina do ar mais de 99,9% dos vírus e bactérias, e que está presente em todos os nossos aviões. Tudo para garantir que as pessoas viajem seguras e com tranquilidade.

No início da pandemia, diante da necessidade de todos ficarem em casa, a GOL operou uma malha aérea pequena, que chamamos de essencial. Essa malha foi cuidadosamente pensada para manter todas as capitais do país conectadas, transportando cargas urgentes e pessoas que realmente precisassem voar. Isso se mostrou crucial para garantir que equipamentos de saúde, medicamentos e órgãos para transplante chegassem aos seus destinos. Além disso, passamos a oferecer gratuidade no transporte de profissionais da saúde envolvidos no combate à Covid-19.

Agora, com a flexibilização, começamos a incrementar nossa oferta de voos, atendendo mais destinos nacionais. Tudo com a máxima responsabilidade, e sempre aplicando todas as recomendações dos órgãos de saúde.

Não creio que esse “novo normal” – do uso de máscaras ao distanciamento absoluto – venha a ser permanente. Tão logo seja descoberta uma vacina ou medicamento efetivo contra o novo coronavírus, a interação social pouco a pouco voltará a ser praticada, mesmo que com alguns cuidados preventivos.

É verdade que causa um certo estranhamento nos deparamos com os aeroportos – verdadeiros organismos vivos – tão vazios atualmente. Porém, após passarmos pelo raio-X, já percebemos uma diferença no ar: cafés em funcionamento, pessoas conversando, algumas risadas… É o ensaio de uma volta à vida. Até que as pessoas possam expor sem disfarces seus sorrisos umas às outras, as empresas aéreas continuarão a fazer o impossível para que voar continue sendo, além de muito seguro, um momento feliz.

*Danilo Andrade é Diretor de Segurança Operacional da GOL Linhas Aéreas