“Vamos evitar falar de política para não haver dissabores”.

Comigo, não!

Desde as três últimas eleições no Brasil, cujo gradiente de disputas culminou, nesta última, no plebiscito entre democracia x fascismo, as discussões ficaram sensíveis.

Rompimentos de amizades; desavenças entre parentes; afastamentos de conhecidos.

O país convulsionou.

Encontros sociais e festas de aniversário se transformaram em campos minados.

Faz parte da história. E não há o que se lamentar com esse fenômeno. Há que se entender.

O idílico de uma sociedade sem contradições só existe em livros de auto-ajuda ou na percepção de quem compreende o curso dos fatos na referência do seu tempo-vida.

É muito pouco.

A classe média, termômetro irracional da realidade, é o epicentro dessas inquietações.

Como assim evitar discutir política?

Anos a fio os filhos do Jornal Nacional classificaram a nós, de esquerda, como seres abjetos. Éramos responsáveis porque o filhote mimado perdeu a vaga na universidade para um cotista negro ou indígena; porque não se achava ninguém para “trabalhar em casa de família”; porque o MST “invadiu” as terras de um grande amigo; porque os “meus impostos” estão sustentando vagabundos em faculdades; porque “os meus impostos” estão sustentando vagabundos com o Bolsa Família; porque “Lula e Dilma são corruptos”; porque não aguento mais aeroportos lotados de farofeiros; porque não posso mais levar meus filhos à Disney; porque o tomate e a gasolina estão caros; porque estão mandando dinheiro pra Cuba; porque estão trazendo médicos de Cuba para serem escravos… entre outros arrotos.

A classe média, símbolo da bestialidade, se irritava porque o país… progredia.

E sua indignação contaminou a maioria.

Elegeram um psicopata que arrastou outros tantos ao poder.

O Brasil iniciaria sua triunfante caminhada redentora. “Nossa bandeira jamais será vermelha”, o gado gritava.

O mundo não chegou sequer a dar uma volta.

Num átimo de tempo, o que era sólido se desmanchou no ar.

Venceu a vilania e o crime organizado, inclusive no Judiciário. Venceu o obscurantismo e o fundamentalismo.

Venceu a morte sobre os direitos sociais e humanos. O direito de ter armas se sobrepôs ao direito à vida.

Venceu a ilusão.

Venceu a grana. Venceu o sorriso dos endinheirados numa eleição fraudada pelo… dinheiro.

Tudo agora vindo à baila.

Para muitos, sim.

E ficaremos calados?

Não.

Sim, nós vamos estragar os aniversários e almoços dos domingos. Seremos o incômodo do churrasco da família. Seremos o cri cri do Whatsapp.

Seremos os chatos, insuportáveis, inimigos da pax romana que tentam impor sob o manto da vergonha das suas irracionalidades pregressas.

Sabemos o que vocês fizeram no verão passado.

E contaremos tudo!

Constrangeremos mesmo! Sem pruridos.

Sim, agora é hora de falar de política. De dizer que seu mito é de barro e que seu herói de Curitiba é um bandido!

E só estamos começando.

 

Zeca Peixoto.