Por Chico Ribeiro Neto

– Você jura que isso é verdade?

– Sim, tá rebocado.

– Tem certeza do que você me contou?

– Tá rebocado, piripicado.

– Certeza mesmo?

– Tá rebocado, piripicado, pela bença de minha mãe.

– Aí agora eu acredito.

Este era um diálogo frequente na Turma dos Aflitos, em Salvador, à qual tive a felicidade de pertencer na década de 60.

Tinha também um negócio de jurar fazendo uma cruz com os dedos e beijando. Só não podia jurar por Deus porque diziam que era pecado. “Tira o nome de Deus dessa história”. Uma forma de jurar sem jura era contar o caso e colocar as duas mãos pra trás, com os dedos cruzados, na hora de falar “eu juro”.

Todo presidente da República faz esse juramento de posse: “Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil”. Acho que o atual presidente cruzou os dedos na hora de ler.

Os médicos prestam o juramento de Hipócrates, hoje mais atualizado, na sua formatura. Infelizmente alguns se desviam inteiramente do que foi jurado (o respeito pela vida humana), como se vê nas estarrecedoras histórias recentes divulgadas na imprensa.

O juramento está muito presente na literatura de cordel. No folheto “Juramento Quebrado”, de Francisco Luiz Mendes (recantodasletras.com.br), ele descreve a fala da amada: “Vou amá-lo a vida inteira/ Seja aqui ou em Pequim/ Serei tua companhia/ Ao último dia de mim”. Quando ela vai embora ele lamenta: “Pois um falso juramento/ Naquele altar se fazia/ Aquele devotamento/ No meu ouvido tinia/ Mas de nada adiantou/ A jura que ecoou/ Não passou de utopia”.

A música popular brasileira cravou vários sucessos com o tema do juramento. Há o inesquecível samba “Se Você Jurar”, de Ismael Silva e Nilton Bastos, de 1930: “Se você jurar que me tem amor/ Eu posso me regenerar/ Mas se é para fingir, mulher/ A orgia assim não vou deixar…”

“Jura”, samba de Sinhô, gravado pela primeira vez em 1928 por seu aluno de violão Mário Reis e depois por Noel Rosa e Aracy Cortes, foi regravado pelo cantor “Zeca Pagodinho” em 2020 e virou a música-tema da novela “O Cravo e a Rosa”, da Rede Globo: “Jura/ Jura, pelo Senhor/ Jura/ Pela imagem da Santa Cruz do Redentor/ Pra ter valor/ A tua jura/ Jura, jura de coração/ Para que um dia/ Eu possa dar-te o meu amor/ Sem mais pensar na ilusão…”

Cinco frases famosas sobre juramento:

“Quebrar o juramento é como negociar a própria honra” (frase judaica).

“Eu sei de que maneira pródiga a alma empresta juramentos à língua quando o sangue arde” (William Shakespeare).

“Nunca um juramento fez algum réu dizer a verdade” (Cesare Beccaria, 1738-1794).

“Os juramentos são a moeda falsa com que se paga os sacrifícios amorosos” (Ninon De Lencios, 1620-1705).

“Mas a nostalgia do presente. O aprendizado da paciência, o juramento da espera. Do qual talvez não soubesse jamais se livrar” (Clarice Lispector, 1920-1977).

Você jura que gostou da crônica?

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)