Por Redação – Foto Divulgação

 

O clima de tensão atingiu níveis extremos na Argentina, à medida que se aproxima o primeiro grande protesto contra o governo do presidente Javier Milei, apelidado de “El Loco”. A expectativa é de um confronto acirrado, uma vez que organizações de esquerda planejam marchar até a icônica Praça de Maio, em Buenos Aires, em repúdio ao plano de Milei, que propõe um corte de 20 bilhões de dólares na despesa pública.

O presidente Milei, conhecido pela sua postura inflexível, delineou um plano rigoroso para lidar com as manifestações de rua, afirmando que as forças de segurança agirão para liberar completamente os espaços de circulação. Em resposta a possíveis bloqueios, o governo ameaça retirar todas as ajudas sociais daqueles que participarem dessas ações, elevando ainda mais a tensão no cenário político.


“Quem bloqueia não recebe”, alertou a ministra do Capital Humano, Sandra Pettovello, em mensagem nas redes sociais. Suas palavras buscam intimidar a população mais vulnerável que depende de planos sociais do governo para sobreviver.

Elas também inauguram, como observa o jornal El País, uma nova diferença de acordo com a classe social: bloquear temporariamente espaços públicos na Argentina de Milei terá um risco maior para os pobres do que para os ricos.


Os bons argentinos a quem Milei sempre se dirige não bloqueiam ruas. Durante a pandemia da Covid-19, a atual ministra da Segurança, Patricia Bullrich, incentivou protestos contra o confinamento decretado pelo governo peronista.

O protesto deve acontecer no fim da tarde, quando a maioria dos argentinos volta para casa, mas, independentemente do horário, a ideia do governo é manter uma política de tolerância zero com quem descumprir o novo protocolo.

Isso obrigará as pessoas a manifestarem-se nas calçadas em vez de marcharem nas ruas, como é habitual na Argentina. O governo teme o agravamento do conflito social devido à deterioração econômica que causará o seu plano de ajuste.


Organizações de direitos humanos alertam que o novo protocolo de segurança desrespeita o direito ao protesto e fere a democracia porque embute “uma autorização para o exercício de violência contra os manifestantes”.

Desde que assumiu a presidência em 10 de dezembro, Milei repete que seguirá firme em seu plano de transformação da Argentina:

“Vão ter um presidente com convicções inabaláveis que utilizará todos os recursos do Estado para avançar nas mudanças que o nosso país necessita”.

A chefe da repressão aos protestos será Bullrich, que já comandou a pasta da Segurança durante a presidência de Mauricio Macri. 40,1% da população argentina é pobre e um em cada dois habitantes do país recebe assistência estatal.

A ministra do Capital Humano usou o medo para desencorajar as crianças de participarem de protestos:

“Estamos especialmente preocupados com as mães que participam das marchas com seus filhos. Não é necessário expô-los ao calor e à violência das manifestações. Esta situação na nova Argentina tem que acabar de uma vez”.

“Vamos todos às ruas”, discursou Eduardo Belliboni, um dos líderes da organização Polo Obrero. A escolha da data não foi aleatória: em 20 de dezembro de 2001, grandes manifestações deixaram 39 mortos e cerca de 500 feridos.

Os deputados da Frente de Esquerda optaram por enfrentar o governo na Justiça. Entraram com uma medida cautelar para declarar inconstitucional o protocolo de Bullrich contra os protestos.