Por Correio Braziliense – Foto Pedro Gomes/O Globo

O céu azul, um casal no parque, a noite estrelada, como diria Van Gogh. A poesia, se olhada atentamente, está por todo o canto. Não somente nas páginas preenchidas pelas linhas, mas por tudo aquilo que faz a alma se revigorar. Apesar desses elementos pouco percebidos, as palavras ainda encontram força para alcançar aqueles que fogem do cotidiano por meio da literatura. No Brasil, existem muitos que fazem da vida uma grande poesia.

Um deles, certamente, foi visto pelas famosas timelines das redes sociais por aí. Aliás, a poesia virtual, se assim pode ser chamada, teve ele como um dos pioneiros, lá atrás, em meados de 2016. Igor Pires, paulista de 28 anos, é o idealizador do perfil Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente, inaugurado há quase uma década. O formato atrativo de textos em posts atraiu inúmeros seguidores no Facebook, que em seguida migrou para o Instagram.

À época, o escritor, que acabava de sair de um relacionamento, encontrou na poesia uma maneira de colocar para fora sentimentos que nem mesmo Igor sabia que estavam ali. “No início, era um perfil coletivo, no qual eu e amigas próximas falávamos sobre autoestima, textos sobre a nossa intimidade. A gente se expunha bastante”, relembra. Muito antes, naturalmente, se apaixonou por obras de grandes nomes da literatura, como Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Machado de Assis, entre outros.

Para Igor, a carreira deslanchou muito rápido. Afinal, muitos escritores publicaram o primeiro livro depois dos 30 ou 40 anos, enquanto ele, no auge da juventude, experimentava dessa diferente sensação de ser um autor publicado. “Para mim, foi meio meteórico me ver dentro desse espaço. Um lugar que eu não me visualizava, pois vim de uma família muito pobre, de uma periferia em Guarulhos (SP). É um caminho que não é ofertado a tantas pessoas assim”, acrescenta.

Best seller

Com o boom de visualizações no perfil do Facebook, logo o primeiro livro saiu, em dezembro de 2017. Com o mesmo título que carrega o nome da página, o trabalho do autor atraiu os olhares do selo Alt, da editora Globo Livros.

Mas, mesmo com o alvoroço nas redes sociais, o pé atrás com as possibilidades de leitura do livro que viria indagavam o coração de Igor. Com o público fiel na internet, a transição para o papel começaria. O que, para ele, seria um início tímido, com poucas obras vendidas, superou a expectativa do escritor e até da editora. “A gente estimava que, pelo menos, se 10 mil obras fossem vendidas, estaria bom. Mas, um ano após o lançamento, mais de 200 mil exemplares tinham sido vendidos. Me tornei um escritor best-seller”, conta Igor.

Com a pouca idade, o escritor soma cinco livros publicados. Em 2020, durante a pandemia, ele se tornou o autor nacional mais lido do Brasil, com 750 mil exemplares vendidos. No total, Igor já ultrapassa a marca de um milhão de obras comercializadas. E, desde então, os números continuam subindo. Nos perfis espalhados pela internet, mais de 2,5 milhões de seguidores. “Sempre fui uma criança muito vislumbrada com o mundo. Sempre gostei muito de pessoas. Passei boa parte da adolescência escrevendo”, recorda o escritor.

Esses olhos de quem observa o universo com uma lente própria lhe permitiu chegar muito longe. Afinal, o Textos cruéis demais é presença marcante nas bienais ao redor do país. Trajeto que fez com que Igor viajasse para vários estados, incluindo Brasília, onde esteve duas vezes. E foi conhecendo os fãs, fora da bolha virtual, que ele percebeu o quão importante a troca pessoal é, não somente para visualizar o rosto daqueles que o acompanham, mas, também, para reafirmar o valor da literatura em lugares onde o acesso a ela é escasso.