Reprodução Unicamp

 

Em um workshop promovido no mês de maio pela Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), sobre a experiência de dez anos da Universidade Federal de São Carlos (UFsCar) na aplicação de um vestibular indígena, foi assinada a portaria que cria o Grupo de Trabalho “Inclusão Indígena na Unicamp”. O GT, com representação de alunos, professores e pesquisadores da Unicamp, propôs estratégias de acolhimento e acompanhamento dos estudantes indígenas que ingressarão a partir desse ano, por meio do primeiro vestibular indígena da Unicamp.

A visita de duas representantes da UFsCar que realizaram o workshop “Vestibular Indígena” aconteceu na sede da Comvest e teve como objetivo trocar experiências com essa que será a universidade parceira da Unicamp em seu primeiro vestibular específico para populações indígenas. Participaram do evento, a pró-reitora de graduação da Unicamp, Eliana Amaral, coordenadores da Comvest e docentes da Unicamp que têm pesquisas envolvendo temas relacionados aos povos indígenas.

A convite da coordenação executiva da Comvest, Tainá Veloso Justo – da coordenadoria de ingresso na graduação da UFsCar e Thaís Palomino – da coordenadoria de relações étnico-raciais da Secretaria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da UFsCar, apresentaram o panorama de dez anos e onze vestibulares indígenas aplicados pela Universidade. A partir dos dados, elas abordaram a rica experiência tanto em relação ao ingresso dos povos indígenas na UFsCar, quanto à permanência e relacionamento com a comunidade universitária.

Thaís, que também é pedagoga e trabalha diretamente no acompanhamento dos estudantes indígenas, falou sobre a importância do diálogo constante. “Estamos com 42 povos indígenas diferentes e não seria possível o trabalho e a integração sem muito diálogo, diante de um universo tão diverso. Essa é a base: construindo, revisando e tendo uma relação bem aberta”, explicou.

Novos saberes

A representante da UFsCar defendeu a necessidade de romper a ideia de que apenas a universidade ensina. “Os estudantes vem ensinando muito à universidade. Não é apenas a universidade que detém o conhecimento. Essa é uma via de mão dupla, pois aprendemos cada vez mais não só a acolher, como a valorizar os saberes desses povos indígenas. Eles também produzem ciência, que também tem base na observação. O registro deles, por exemplo, tem uma marcação diferente, mas assim como nós, eles também fazem registro da ciência produzida nas comunidades. Além disso, a universidade está tendo a oportunidade de formar novos campos de pesquisa. Já temos estudos de línguas indígenas, que não aconteceriam se não tivéssemos povos indígenas na UFsCar. Um exemplo são as ações em saúde nas terras indígenas, que estão possibilitando que nossos pesquisadores dessa área tenham uma formação mais completa e condizente com a realidade brasileira”, relatou Thaís.

Tainá Veloso Justo, da coordenadoria de ingresso, contou que os cursos mais procurados pelos estudantes indígenas na UFsCar são principalmente aqueles das áreas de educação e da saúde, considerados por eles como mais estratégicos, na medida em que podem aplicar o conhecimento nas comunidades. “Se você tem um estudante indígena formado em um campo da saúde, você tem um profissional com um conhecimento ampliado, que possui as duas linguagens e pode trabalhar de duas formas distintas”, disse Tainá.

Vestibular Indígena Unicamp

A Comvest irá divulgar, em junho, o edital com as informações completas sobre o processo do Vestibular Indígena. As inscrições serão realizadas entre 15 de agosto e 14 de setembro, pela internet, e a prova será aplicada no dia 2 de dezembro, em cinco cidades do país.

O coordenador executivo da Comvest, José Alves de Freitas Neto, disse que, em relação à experiência da UFsCar, a Unicamp vai ampliar a base de provas para além de Recife (PE) e Manaus (AM), que são atualmente os dois locais de aplicação das provas do vestibular indígena da Universidade de São Carlos. A Unicamp levará as provas também para as cidades de São Gabriel da Cachoeira (AM), onde está a maior parte da população indígena do Estado; Campinas e Dourado (MS).

A parceria com a UFsCar, de acordo com o coordenador, consiste em fazer um vestibular unificado, tendo um processo conjunto até a etapa das chamadas, que serão simultâneas. “Essa dinâmica tem o objetivo de facilitar o processo para os estudantes indígenas, que prestarão uma única prova, elaborada pela Unicamp, e poderão escolher entre as diversas opções de cursos das duas universidades”, afirmou. “A parceria nos traz uma importante experiência anterior, que possibilita nos apropriarmos desses conhecimentos e oferecer o melhor processo possível, tanto na elaboração da prova como durante o percurso acadêmico desses estudantes na Unicamp”, completou Freitas Neto.

As provas devem ser realizadas nas seguintes cidades: Recife (PE) e Manaus (AM), São Gabriel da Cachoeira (AM), Campinas (SP) e Dourado (MS).

Por Juliana Sangion