Por Emilson Piau Gusmão

Escrito em agosto de 2012

  1. Pedral é um ícone da política conquistense. Meu avô, Lula Piau, dava conta das histórias de um jovem engenheiro que, incentivado por Dona Olívia Flores, enfrentou Jesus Gomes dos Santos e venceu as eleições de 1962 em Conquista. Relembro que J. Pedral é neto de Cel. Gugé e sobrinho neto do Cel. Francisco Santos. Dizia meu avô que ele é parente de João Gonçalves da Costa, um dos fundadores de Conquista. Se de fato é, só os professores Ruy Medeiros e Cida Souza saberão dizer. Sei é que J. Pedral é o Conquistense VIVO mais emblemático da política baiana. Onde se cogita, na Bahia, sobre resistência política à ditadura e sobre políticos de esquerda o nome de “Pedral” é sempre lembrado. Inesquecível seu trabalho na vitoriosa campanha de Waldir Pires.

Discordando de suas decisões em anos recentes ou questionando suas escolhas políticas é preciso honrá-lo e distingui-lo entre os demais. Nesses nossos tempos “iconoclastas” muitos têm vergonha de render homenagens aos antecessores na luta, por medo de serem tachados de “saudosistas”, “adesistas” e “românticos”.

Honrar a memória de Pedral, em vida, significa reconhecer seu papel seminal na construção da política baiana e conquistense, compondo, na sua inteireza, o Cidadão Pedral respeitando suas escolhas e valorizando sua trajetória.

O jogo dos opostos é perigoso. O positivismo, o cartesianismo e o maniqueísmo muitas vezes nos levam a pontos de vistas extremados. Bom ou mau, frio ou quente, direita ou esquerda, Bahia ou Vitória, amor ou ódio, “Meletes” ou “Peduros”. Em política costumamos escolher um lado, execrar o outro e, ao colocarmos defeitos nos adversários deixamos subtendidas nossas qualidades “o que você não é me representa”. Essa é minha hipótese para a dificuldade em reconhecer e honrar a inteligência e as escolhas das outras pessoas, principalmente na política. Quem reconhece, aparentemente, legitima. Daí, é preferível, simplistamente, rejeitar.

Instintivamente desejamos romper com o passado. J. Pedral coagula, em si, a tradição centenária desde Cel. Francisco Santos ou, quem sabe, de João Gonçalves da Costa. Essa carga simbólica – muitas vezes inconscientemente – torna-o réu preferencial das sombras do passado e anti-herói das lutas do presente, num jogo onde o rompimento com o “mito fundador” representa a solução dos problemas do presente.

O mundo mudou, a cidade mudou. De uma pequena vila com pouco mais de 20 mil habitantes, no final do século XIX, para uma cidade pólo com mais de 300 mil no século XXI.

Fugindo do maniqueísmo, é urgente recolocar o Cidadão J. Pedral no seu lugar de destaque e render-lhe o reconhecimento pela luta em defesa de Vitória da Conquista. Uns dirão que foi brilhante, outros, que nem tanto, mas, reconhecerão a luta.

Eu honro e reconheço a trajetória. O Cidadão J. Pedral forja, com suas escolhas, uma imagem tetradimensional. Sem as coordenadas espaço-tempo é impossível compreender as dimensões reais e simbólicas de J. Pedral. Ele é um dos grandes conquistenses que nos permitiram chegar onde estamos e, por ironia, é um ícone que queremos superar. Precisamos compreendê-lo no seu tempo e ele compreender-nos no nosso, significando respeito, dignidade e justiça.

Fonte: Blog do Paulo Nunes