Por Redação – Foto Marcos Oliveira/Agência Senado
Nesta segunda-feira (25), o Senado Federal do Brasil celebra seu bicentenário em meio a um cenário de predominância masculina e hereditariedade política. Um estudo conduzido pelo cientista político Robson Carvalho, doutorando pela Universidade de Brasília (UnB), revelou que cerca de dois terços dos senadores eleitos desde a redemocratização têm laços familiares com figuras políticas já estabelecidas. Além disso, a representação feminina, especialmente a das mulheres negras, é alarmantemente baixa.
Dos 407 mandatos disputados desde a redemocratização, impressionantes 67% foram ocupados por pessoas com conexões familiares com políticos previamente eleitos. Essa tendência perpetua a concentração de poder nas mãos de algumas famílias políticas, onde o sobrenome muitas vezes se torna um ativo eleitoral. “O que a gente tem na prática é que, muitas vezes, a condução das instituições públicas é tratada como se fossem capitanias hereditárias, distribuídas e loteadas para quem apoia aqueles grupos político-familiares”, destaca Carvalho.
A disparidade de gênero também é evidente, com 89% dos mandatos ocupados por homens, enquanto apenas 11% são ocupados por mulheres. A representação das mulheres negras é ainda mais alarmante, com apenas quatro eleitas para o Senado entre 1986 e 2022. Esse panorama reflete a reprodução das desigualdades políticas e prejudica a representatividade de gênero e raça na esfera política.
Robson Carvalho ressalta que essa dinâmica não se limita a um espectro político específico, permeando todos os partidos, da direita à esquerda. Ele alerta que essa hereditariedade política não deve ser naturalizada, pois limita o acesso de grupos diversos, como mulheres, negros, quilombolas e indígenas, à arena política.
Entre os políticos que ascenderam ao Senado graças à herança política estão figuras proeminentes como Flávio Bolsonaro, Lobão Filho, Renan Filho, Ronaldo Caiado e Rogério Marinho, demonstrando a influência contínua das famílias políticas na esfera legislativa brasileira.