(Chico Ribeiro Neto)

Amendoim cozido nos dois bolsos da frente da calça e bomba nos dois de trás. Pronto para ir pra rua. Findo o estoque, era só ir em casa reabastecer.

Meus melhores São Joões foi quando morei na Ladeira dos Aflitos, 33, em Salvador, onde vivi dos 7 aos 15 anos. Menino só presta em turma onde a cada hora surge uma nova brincadeira.

A gente tirava a pólvora de cinco bombas, colocava uma “pedra de fogo” em cima, depois pisava com o calcanhar do sapato, batia continência ao mesmo tempo em que batia um pé no outro só para ouvir o estrondo.

Também se tirava a pólvora de umas 20 bombas pequenas, misturava com pedrinhas e fazia um pacote bem apertado amarrado com cordão. Aí procurava um muro para arremessar a chamada “bomba de parede”.

A guerra de “cobrinha” era boa demais. A bicha era pequena mas fazia um estrago retado, entrando nas janelas das casas e até embaixo da saia das meninas.

Tinha o Adrianino de três tiros e o outro que não explodia, assobiava. O vulcão, que custava caro e cuja erupção era acompanhada de “Ohsss!”. A singeleza da chuvinha de prata e o traque de massa pra dar susto.

À noite, no quintal do 33 que dava para a Baía de Todos os Santos, ficava um tempão vendo os balões que iam cair no mar. Acho que foi meu primeiro entendimento de efêmero.

Lá em cima do guarda-roupa descobri dois pacotes de fogos enrolados com jornal. “Esse aí é pra São Pedro, não pode usar hoje, não”, alertou mamãe Cleonice.

“Tá de capim na boca, cismada, olhando o céu”, canta meu neto Pedro no São João da escola.

De manhã, entre as cinzas da fogueira restavam uma batata queimada e uma fumacinha que parecia me dizer: “São João, ô São João, não saia nunca do meu coração”.

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