Por O Tempo – Foto Lucas Seixas

Um dos nomes mais importantes da literatura brasileira, a escritora Conceição Evaristo mantém olhos atentos às novas narrativas e produções literárias do país, principalmente no que tange à autoria de mulheres negras.

Nesse cenário, ela avalia que as transformações têm sido muitas e importantes. “O processo de escrita ou o processo de imaginar uma situação, um país, de criar uma ficção vai se modificando ao longo do tempo. Eu sou de uma geração em que a nossa escrita não trazia muito a nossa vivência enquanto sujeito individualizado, enquanto mulher. Quer dizer, não trazia muito, por exemplo, de nossas dores, de nossas paixões, de nossa sexualidade. Hoje tem uma escrita mais jovem, em que as mulheres, em que essa autoria traz esses assuntos, traz essa temática, traz esse imaginário que a minha geração não trabalhava tanto”, observa.

Segundo Conceição, há nessa produção uma explicitação do sujeito e de suas experiências. “Seja ele homem, mulher, seja uma pessoa trans, seja uma pessoa lésbica, uma pessoa homossexual. Essas novas narrativas trazem novos modos de ficcionalização, novos modos de interpretação do texto e até de dizer o próprio texto. O que é um rap hoje? A força que ele tem hoje demonstra muito essas novas formas de conceber e de apresentar um texto”, analisa.

E entre os novos nomes do cenário, Conceição recomenda a escritora mineira Julia Elisa. “É uma jovem de Belo Horizonte, eu fiz até o prefácio do livro dela. Fiquei encantada com os poemas dela”, conta a autora, confessando que se mantém atenta à nova geração. “Outros textos também estão aí surgindo, e um dos meus propósitos é acompanhá-los para ter uma antologia. Tenho muita vontade de escrever uma antologia crítica de poesias, dessa criação bem contemporânea, bem jovem. Com uma autoria em que muitas têm idade para serem minhas netas”.