A história do Brasil tem várias leituras, como a dos Estados Unidos da América (EUA), da Inglaterra, de quase todos, se não de todos os países. Isto porque as narrativas são divulgadas e repetidas por um interesse político. Quase sempre e unicamente dos detentores do poder.
Isto não tira o brilho e o empenho de historiadores, e o Brasil os tem de grande capacidade e de profundos e denodados trabalhos. Se não os cito aqui, penso mais em suas próprias defesas e na injustiça da omissão.
Nestas últimas décadas, que começam com as designadas “crises do petróleo”, um antigo poder retomou o controle do mundo ocidental e, como no passado, passou a dominar o planeta. Em “O sistema internacional da liquidez infinita e acumulação selvagem”, do professor Bruno Lima Rocha, divulgado pelo “GGN, o jornal de todos os brasis”, li, e creio ser pela primeira vez, a colocação da China como um dos países centrais do capitalismo de hoje. Fecha-se, assim, em âmbito planetário o domínio das finanças, do sistema financeiro internacional, que denomino “banca”.
Algumas palavras para fixarmos esta banca. É a reunião de três ou quatro dúzias de famílias, que detém a maior riqueza do mundo, e que se apropriaram do controle das comunicações de massa, dos principais centros de pesquisa e ensino, e dirigem mais da metade dos fluxos monetários internacionais. Sua fonte de poder é a dívida (por que não são auditadas as dívidas?) e seus dois objetivos são a concentração de renda e a apropriação de todos os ganhos, legais ou ilegais, de todos os setores econômicos. No estágio atual, segunda década do século XXI, inicia a destruição dos estados nacionais, a entrega ao sistema financeiro da direção mundial.
Sem a clara consciência de que não há mais espaço para as ideológicas discussões do século XX sobre comunismo e capitalismo, socialismo versus fascismos, não será possível defendermo-nos como Nação, como uma nacionalidade brasileira. Seremos todos apátridas, escravos do financismo.
Em outros artigos já desenvolvi minhas reflexões sobre o empoderamento da banca. Vou tratar agora, unicamente, do momento brasileiro, após o golpe de 2016.
Com a banca veio o pensamento “neoliberal”. Tenho a maior implicância com este “neo”. É o velho liberalismo do século XVIII, com os instrumentos tecnológicos do século XX, impondo a morte dos mais fracos. Fico pasmo de ver estes “neoliberais” se manifestando contra o aborto, entrando nas igrejas, qualquer que seja a denominação religiosa, pois sua filosofia é da “lei da selva”, vencem os fortes, morrem os fracos, qualquer que seja a base de suas forças.
Na recente passagem pelo Brasil, o pensador italiano Antonio Negri relatou um caso, por ele vivenciado, da falácia neoliberal. Transcrevo da entrevista divulgada pelo “Conversa Afiada”, de Paulo Henrique Amorim:
“Vivo em uma região, em Veneza, em que na primeira metade dos anos 1970 aconteceu esse primeiro ataque neoliberal que destruiu fábricas grandes, onde a luta operária era muito forte, como no ABC paulista ou mais. As fábricas foram praticamente destruídas. E se deu um grande impulso ao empreendedorismo individual e com base nisso cresceram enormes sistemas industriais, como Benetton. Onde? A partir de casa. Cada um era empresário em casa. Essa ideia empresarial resistiu até o momento que chegou a crise. Chegou ao ponto que a ilusão dessa nova democracia industrial individualista (se mostrou) ilusória.”
Vemos, nesta narrativa, as seguintes falácias: primeiro que é a competitividade que gera riqueza (na verdade ela gera mortes, físicas ou jurídicas), que há sempre um mais esperto que se aproveita dos trouxas (quem vai bater panela é o próximo desempregado ou falido) e que a banca gera as crises para seu empoderamento.
Gosto de chamar os emissários da banca de agentes. Eles são, em muitos casos, os “toupeiras” do jargão da espionagem. Atuam contra seus países, por algum tipo de corrupção – do bolso ou da mente – e estão em qualquer lugar, nos governos, nas comunicações de massa e, mais fortemente neste instante da banca, no judiciário.
Permitam-me um momento de reflexão sobre as ditaduras da farda e da toga. O passado recente do Brasil deixou muitas sequelas pela ação dos militares, que acolheram os emissários da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, de promoverem a tortura e morte de brasileiros, abrigados pela “luta ideológica”. Incrível pensar que designações da religião pentecostal ou o neoliberalismo, por exemplo, não sejam ideologias e atuem politicamente. Mas a ditadura militar é visível nas ruas e, assim, como ocorreu, mais fácil de unir pessoas contra ela. A ditadura da toga, que hoje presenciamos, é muito mais sutil e difícil de ser denunciada. Pergunto, apenas para exemplificar, por que não se desconstruiu a farsa do mensalão, em 2005/2006, quando todas suas bases eram criações midiáticas? Nunca houve o “Visanet”, do “meu Banco do Brasil”, da fala de Gilmar Mendes. E tantas outras “mágicas” foram feitas para que a corrupção dos sempre corruptos “políticos da boquinha” fosse dirigida apenas para os representantes do Partido dos Trabalhadores.
Os militares também estão sofrendo a politização neoliberal, como os demais brasileiros. E há entre eles, como também no judiciário, que se oponha ao domínio da banca.
Vejo esta confusão – propositalmente colocada nas comunicações de massa, não só na oligárquica brasileira, mas nas mais tradicionais e democráticas europeias – como parte da ação atual da banca no desmonte dos Estados Nacionais. Isto já foi feito – e não por acaso – onde há petróleo. As vítimas foram o Iraque, a Líbia, a Ucrânia, o Afeganistão e, se não fosse a ação da Rússia de Putin, também estaria a Síria, neste rol, ao qual se somam, nas Américas, a petroleira Venezuela e o México.
O inimigo é muito forte para exigirmos exclusividade na luta. Basta, a meu ver, a convicção nacionalista, o interesse na manutenção do Estado brasileiro. Cada momento de Temer e demais agentes no Congresso, no Supremo Tribunal Federal, na Lava Jato, em Agências Reguladoras, em direção das estatais são partes do Brasil que são alienadas.
Fora Temer e todos os agentes, já.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado