Pesquisa apontou que os casos de depressão quase dobraram, e que patologias como ansiedade e estresse sofreram aumento de 80%.

A pandemia do novo coronavírus provocou mudanças radicais na vida das pessoas, como aderir ao isolamento social, mudar o regime do trabalho, paralisar rotinas escolares ou de lazer, tudo como estratégia para conter o contágio do vírus que já matou quase 1 milhão de pessoas no mundo. As medidas são importantes para proteger o corpo, mas podem favorecer o surgimento ou agravamento de transtornos de saúde mental, como ansiedade, estresse e depressão.

“Mesmo sendo uma medida de segurança, quando o indivíduo começa a se isolar de pessoas ou grupos de forma constante ou é forçado a isso, pode, sim, acontecer de desenvolver transtornos mentais, pois é passível que haja uma impressão de punição pelo momento”, explica a psicóloga e psicanalista, Adrielle Lordelo.

O alerta feito pela psicóloga é respaldado por um estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Segundo o levantamento feito pela instituição, foi registrado um aumento preocupante no número de distúrbios de saúde mental nos primeiros meses de pandemia. A pesquisa foi aplicada por meio de questionário on-line entre março e abril, com 1.460 participantes de 23 estados brasileiros.

A análise detalhou que os casos de depressão quase dobraram entre março e abril, indo de 4,2% a 8%. Os números referentes às pessoas estressadas pularam de 6,9% para 9,7%, enquanto os relatos de ansiedade evoluíram de 8,7% para 14,9%. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a média percentual padrão das doenças na população humana é 3,9% para depressão, 8,5% para estresse e 7,9% para ansiedade.

O projeto ConVid – Pesquisa de Comportamento – destacou que as mulheres relataram problemas no estado de ânimo com mais frequência na pandemia. O percentual feminino que se sentiu triste e deprimido foi de 50%, e o masculino 30%. Aquelas que se sentiam ansiosas e nervosas pontuaram 60%, enquanto eles registraram 43%. O estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a UFMG e a Unicamp, ouviu 44.062 indivíduos entre 24 de abril e 8 de maio.

No consultório em que atende, na cidade de Salvador, Adrielle Lordelo também percebeu aumento no número de pessoas em busca de tratamento.  “A procura tem sido maior, inclusive por pessoas que nunca tinham se interessado por acompanhamento antes, e até outras que nem sabiam da importância da terapia, mas que passaram a frequentar”, relata a profissional.

Para ela, que tem trabalhado durante a pandemia de forma presencial para atender e ajudar quem precisa de tratamento, o momento também evidenciou uma demanda reprimida, ou seja, pessoas que tinham patologias de forma contida, mas que se acentuaram no período, despertando a procura na forma de urgência e emergência.

Conforme a profissional, é normal que a população sofra algum tipo de alteração comportamental neste período. Mas a partir do momento que isso passa a ser algo frequente e faça sofrer, é importante buscar um especialista. Arrumar a casa interna e manter os laços sociais são umas das principais estratégias para driblar as patologias mentais. “Deve-se organizar a mente, manter rotina, praticar atividades ligadas à arte, ou outras que nos fazem bem. Não precisamos enfrentar esse momento a sós”, finaliza.

Em setembro, a atenção com a saúde mental aumenta, com especial atenção para a depressão. Com a campanha Setembro Amarelo, movimento que existe desde 2014, são desenvolvidas ações que visam prevenir e reduzir o suicídio no mundo. Há registros de 12 mil suicídios no Brasil por ano e mais de 1 milhão no mundo.