Por Redação – Foto Amanda Oliveira

A luta pela regularização dos territórios e o modo de vida dos povos tradicionais serão as temáticas apresentadas durante o desfile

Para defender o reconhecimento dos territórios onde moram e a garantia de seus direitos, representantes de comunidades quilombolas e ribeirinhas acompanhadas pela Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 estarão no Grito dos Excluídos e das Excluídas 2023, em Salvador. Com cartazes que revelam a importância deles para a diminuição do impacto das mudanças climáticas e que cobram a necessidade da regularização fundiária dos povos tradicionais, eles participarão da tradicional manifestação promovida pela Igreja Católica e entidades parceiras. A saída do Grito dos Excluídos é do Campo Grande, logo após a passagem do desfile oficial do 7 de Setembro.

“Essas comunidades cuidam do planeta, respeitam os ciclos naturais e produzem o próprio sustento, o seu próprio alimento. O modo de vida delas contribui para esse cuidado do planeta e o enfrentamento das mudanças climáticas, aquecimento global, queimadas. A permanência dos seus modos de vida passa por um conhecimento ancestral da natureza, das plantas, da relação com a água e terra. Eles produzem sem agrotóxicos. A relação com o planeta não é mercantil, é espiritual. Não explora, mas cuida. Manter as comunidades é central para esse debate da importância da gente enfrentar as questões climáticas”, explica Márcio Lima, engenheiro agrônomo e coordenador do Programa Global das Comunidades da Nossa América Latina, promovido pela Cáritas.

Segundo o Instituto Socioambiental, ISA, os povos indígenas e tradicionais são responsáveis pela proteção de 30,9% das florestas do Brasil. Mas no caso dos quilombolas, por exemplo, de acordo com o censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, apenas 12,6% residem em território reconhecido. A falta da regularização fundiária é um dos fatores que contribui para o surgimento de conflitos e casos de violência, que incluem ameaças de morte e assassinatos como o da iarolixá Bernadete Pacífico.

“As comunidades quilombolas estão em constante ameaça. Como não tem título (da terra), sofrem ameaças, ligadas à perda dos territórios, principalmente dos grandes empreendimentos e projetos, grandes latifundiários. São regiões que têm alto nível de tensão, conflito pela questão da terra. Essas comunidades enfrentam esse desafio com lideranças ameaçadas por lutarem por justiça territorial. A sociedade precisa saber da importância e defesa desses territórios”, revela Lima.

O coordenador do programa ainda destaca a presença feminina na defesa dos territórios. “As mulheres têm sido centrais na luta das comunidades. Mãe Bernadete (liderança quilombola recentemente assassinada na Bahia) é um exemplo. Lideranças quilombolas vêm lutando e estão sendo ameaçadas. O papel da mulher quilombola, ribeirinha, comunidade tradicional tem sido central nas lutas dos territórios”, finaliza o coordenador.

O Grito dos Excluídos está na 29º edição e este ano faz o questionamento: “Você tem fome e sede de quê?” “O Grito é um espaço histórico. Ele faz a contraposição a essa data em que é comemorada a liberdade, a independência do Brasil, mas quando você olha para a realidade sócio política ainda existem injustiças sociais. Enquanto existirem injustiças sociais e econômicas, se faz necessário o Grito”, avalia Lima.

O Programa Global das Comunidades da Nossa América Latina é desenvolvido pela Cáritas Brasileira (Regionais Nordeste 3 e Norte 2), Cáritas Colômbia e Honduras e apoiado pela Cáritas Alemã e Ministério Alemão. É realizado a partir da participação e incidência política nas comunidades tradicionais em cada país e visa melhorar a implementação dos direitos à terra e ambientais, promover a participação política das comunidades rurais e disseminar abordagens inovadoras para a adaptação às mudanças climáticas nos territórios.