Por Maria Cecília Freire 

Ao longo dos anos a produção literária tem sido parte do produto histórico, sendo a literatura a própria fonte histórica, logo a relação ficção – realidade permite a análise da realidade de um tempo passado, bem como as sensibilidades e sentimentos da época. Logo, existindo um vínculo muito forte entre a legitimidade da obra literária como documento histórico e os estudos teóricos relacionados a época.

Machado de Assis apresentou o perfil romântico europeu e baseou suas obras segundo a sociedade brasileira do século XIX, que na época distanciava-se do modelo europeu, uma vez que o liberalismo integrava a sociedade europeia enquanto no Brasil, apesar de constituída a República, mantinha uma configuração escravista e colonialista. Foi a partir da segunda fase do autor que a forma de narrar em primeira pessoa e o romance de memórias, foi inaugurada, sendo considerado por diversos críticos um modelo poderoso de recursos narrativos. Luis Felipe Ribeiro observa essa análise como um “resgate vívido feito pela memória” em seu livro Mulheres de Papel (1996).

Na capital do Brasil o rigor ordenava o luxo de forma ostensiva, o gosto pelo teatro e por obras estrangeiras, geralmente francesas. Machado de Assis representou em sua obra exatamente o conceito romântico burguês, em ascensão no século XIX: o casamento e a família. Entretanto, o casamento fazia parte de uma estratégia econômica na qual a mulher é o meio pelo qual o capital chega ao homem. Capitu era uma personagem bastante extrovertida e inteligente, possuindo aspectos mal vistos para um bom casamento, principalmente pela elite brasileira da época. Sendo evidenciado por José Dias como uma preocupação que Bentinho namorasse Capitu, uma moça socialmente e economicamente de classe inferior a dele.

Nesta obra é possível analisar de forma representativa, a mudança de monarquia para República, que no Brasil aconteceu em 1889 apenas dez anos antes de seu lançamento. Observa-se os aspectos dessa representação, uma vez que a República é representada por uma figura feminina, popularizada após a Terceira República na França, enquanto a figura masculina representava a monarquia. Na obra as personagens femininas principais possuem uma figura de poder e influência sobre Bentinho, sua mãe D. Glória e Capitu, sua esposa.

A partir das leituras literárias, críticas e teóricas presentes na obra Dom Casmurro (2018) escrita pelo romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e crítico literário, Machado de Assis transmitiu a seus leitores de forma literária, uma emblemática perspectiva histórica com representações históricas e a criação de indagações que continuam quebrando nossas cabeças até os tempos atuais. Além disso, a obra Dom Casmurro (2018) apresenta o esplendor da fase realista de Machado de Assis, sendo um dos maiores cânones literários da Literatura Brasileira.