Depois de esperar por quase uma hora pelo norte americano Donald Trump, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro cumpriu, por cerca de 15 segundos, o compromisso pessoal mais importante da sua passagem por Nova York para discursar na Conferência da ONU. No lobby do hotel onde os dois se hospedaram, Bolsonaro ganhou um aperto de mão e, segundo pessoas que estavam próximas dos mandatários, balbuciou – em inglês – um elogio para Trump.

No plenário das Nações Unidas, em pouco mais de meia hora,  o presidente brasileiro desfez a expectativa de que adotaria um tom conciliador e afirmou que a preocupação da comunidade internacional sobre a Amazônia é motivada por “colonialismo”.

Nesse contexto, atacou nominalmente França e Alemanha.

“A Organização das Nações Unidas teve papel fundamental na superação do colonialismo e não pode aceitar que essa mentalidade regresse a estas salas e corredores, sob qualquer pretexto. Não podemos esquecer que o mundo necessita ser alimentado. A França e a Alemanha, por exemplo, usam mais de 50% de seus territórios para a agricultura, já o Brasil usa apenas 8% de terras para a produção de alimentos”, afirmou.

Bolsonaro disse ainda que lideranças indígenas que denunciam o desmatamento da floresta, como o cacique caiapó Raoni Metuktire, “são usados como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”.

Bolsonaro abriu seu discurso dizendo que o Brasil “ressurge depois de estar à beira do socialismo”. Ele fez duras críticas a Cuba, em especialmente ao programa Mais Médicos — que levou médicos cubanos para trabalhar no Brasil — e também à Venezuela.

Os cubanos deixaram o programa, iniciado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, com o rompimento do acordo de colaboração por parte de Havana após a eleição de Bolsonaro.

“Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições.”

No final de seu discurso, Bolsonaro investiu contra o que chamou de “sistemas ideológicos de pensamento que não buscavam a verdade, mas o poder absoluto” e relacionou isso ao ataque que sofreu durante a campanha, quando foi esfaqueado.

Afirmou que “a ideologia” teria se instalado “no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas”.

Também teria invadido “lares” para, em suas palavras, “investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família”.

“Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo sua identidade mais básica e elementar, a biológica”, afirmou.

O presidente brasileiro destacou também o “politicamente correto” que, segundo ele, “passou a dominar o debate público para expulsar a racionalidade e substituí-la pela manipulação”.

“A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu”, afirmou. Essa “ideologia”, segundo ele, deixou “rastro de morte, ignorância e miséria por onde passou”.

E, disse Bolsonaro, ele próprio foi “vítima”, quando foi esfaqueado por um “militante de esquerda”. O então candidato à Presidência foi esfaqueado por Adélio Bispo de Oliveira em setembro de 2018.

Da Redação NB *com informações da BBC News Brasil – foto: Reprodução