Turbantes bem elaborados, indumentárias ornamentadas, colares coloridos e muita energia. Este foi o cenário na Câmara Municipal de Feira de Santana na noite desta quinta-feira (26), durante a sessão solene comemorativa do Dia da Religião de Matriz Africana e do Sacerdote e da Sacerdotisa. No plenário e na galeria, representantes das comunidades de axé e de instituições religiosas e autoridades.

Em um belo discurso em que misturou história e religião, o vereador José Carneiro saudou os convidados falando da “religião dos negros”. Ele destacou a resistência e a influência da religião africana no Brasil, desde os aspectos festivos ao caráter moral, ressaltando ainda a importância do candomblé e todos os seus rituais e lembrou que a religião então considerada feitiçaria se fortaleceu um século depois da abolição da escravatura.

O presidente do Legislativo citou o escritor Gilberto Freyre, autor da obra Casa Grande & Senzala, em que afirma: “Em tudo que é expressão sincera da vida, trazemos quase todos a marca da influência negra”.  Sobre a escravidão, Carneiro destacou que o subjugo foi muito além da questão física, alcançando também os aspectos espiritual e ideológico. “Foi o sincretismo, usado como uma máscara, que permitiu a sobrevivência da religião”, frisou.

O militante do Movimento Negro e jornalista Vicente Silva dos Santos abordou o tema “Intolerância Religiosa”, afirmando que a questão não é mais limitada ao campo social, mas à área policial. Ele citou a Constituição Federal, que assegura a “liberdade de  consciência e de crença”, mas que infelizmente, não tem sido respeitada. “Não buscamos ser tolerados, mas respeitados”, destacou o palestrante, acrescentando que “nossa religião surge da natureza e não é contra nada”.

“O povo negro teve sua liberdade tolhida e negada por uma elite podre, apenas por ter a cor da pela mais clara”, afirmou Zizino Oliveira da Silva, advogado especialista em Direito Público e Direito dos Povos e Comunidades Militantes dos Direitos Humanos e das Minorias, o segundo palestrante da noite. Esse tratamento discriminatório, frisou, perdura até hoje, “pois essa mesma elite podre não se contenta com o fim da escravidão e utiliza todos os meios, inclusive religiões fundamentalistas para buscar o poder”.

A sessão foi conduzida pelo presidente da Casa, José Carneiro, que formou a Mesa de Honra ao lado dos palestrantes e de Maria das Graças Santos, coordenadora da Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro, que também usou a palavra para defender que apesar do momento festivo, o povo de santo está sendo massacrado e deve aproveitar as oportunidades para reivindicar respeito. Várias pessoas foram homenageadas com placas no final da sessão.